Título: Mais cargas agrícolas vão a portos do país sobre trilhos
Autor: Conrado Loiola
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Agronegócios, p. B13

A crise de renda que eclodiu sobretudo na área de grãos alterou o perfil da movimentação de cargas agrícolas nos principais portos do país no ano passado. Mas, de uma maneira geral, a movimentação total aumentou. Na rota até as principais portas de saída das exportações do agronegócio brasileiro, o transporte ferroviário avançou sobre o modal rodoviário, principalmente pelos menores custos e por investimentos no sistema. Estima-se que o frete ferroviário seja, em média, 30% inferior ao rodoviário para distâncias acima de 500 quilômetros. Em Paranaguá (PR), a movimentação do complexo soja - carro-chefe agrícola no porto - cresceu para 11,86 milhões de toneladas em 2005, apesar das restrições locais em relação à soja transgênica. Em 2004, foram 11,44 milhões. Até o porto paranaense, o transporte de soja em grão por vagões cresceu 20% de 2004 para 2005. Na mesma comparação, a utilização do modal rodoviário caiu 12,5%. No farelo de soja, o uso dos trilhos subiu 14%, enquanto o transporte por rodovias cresceu 6%. Da movimentação total em Paranaguá, o farelo teve participação menor em 2005, pela queda da demanda externa. Mas Eduardo Requião, superintendente do porto, comemorou a receita cambial total (incluindo cargas não agrícolas) de R$ 9 bilhões registrada e estima alcançar R$ 10 bilhões em 2006. Ele credita o avanço da movimentação agrícola à diversificação de cargas. "Perdemos em frango e em farelo, mas compensamos com madeira. Para este ano, estamos prevendo uma movimentação de até 460 mil toneladas a mais dessa carga". Requião lembra que os operadores portuários e o próprio porto têm investido para elevar a capacidade de embarque e reduzir gargalos. Entre as obras em curso estão um armazém para 33 mil toneladas em Ponta Grossa (PR) e um terminal de álcool para atender à demanda do Japão. "Investimos R$ 150 milhões nos últimos dois anos e ainda temos R$ 330 milhões em caixa", afirma. Em Santos (SP), a movimentação agrícola total cresceu de 34,9 milhões de toneladas em 2004 para 38,7 milhões em 2005. No caso do complexo soja - segundo lugar no ranking agrícola do porto, atrás do açúcar -, trafegou por ferrovias 55% do volume total de 9,4 milhões de toneladas em 2004. Segundo Renato Khalil, superintendente da Portofer (do grupo Brasil Ferrovias), a fatia chegou a 56% no complexo soja em 2005, quando foram escoadas 10,3 milhões de toneladas. A Portofer, que administra as linhas na área do porto, projeta para 2006 novo aumento da participação, para 60%. No escoamento de açúcar por Santos - açúcar e soja representam 76% da movimentação agrícola do porto -, a participação dos trilhos subiu de 14%, em 2004, para 20% em 2005. O volume embarcado cresceu de 10,9 milhões para 12,4 milhões de toneladas em igual comparação. Em Rio Grande (RS), a quebra da produção gaúcha em 2004/05 por conta da estiagem foi a vilã. Ali, o movimento agrícola atingiu 3,29 milhões de toneladas em 2005, ante 6,2 milhões no ano anterior. Mas também em Rio Grande a importância das ferrovias cresceu - de 23%, em 2004, para 40% em 2005. Já a das rodovias recuou de 66% para 46%. O restante foi escoado por hidrovia - modal mais incentivado pelo porto. Fernando Rothbarth, supervisor do terminal graneleiro da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), um dos três terminais agrícolas do porto de São Francisco do Sul (SC), prevê maior relevância do modal ferroviário nas próximas safras. "As empresas estão fabricando vagões maiores e aumentando as composições [de 70, em média] para 100 vagões. Também é mais seguro", diz o executivo. Segundo ele, o ano de 2005 não foi representativo para a empresa, pois o terminal sofreu reformas que praticamente paralisaram as atividades. Por isso prefere uma comparação entre 2004 e 2006. De janeiro a março do ano retrasado, 302 mil toneladas de cargas do complexo soja (grão, farelo e óleo) chegaram ao terminal por caminhão, enquanto os trens levaram 76,4 mil toneladas no mesmo intervalo. Já no primeiro trimestre de 2006, o modal ferroviário apresentou um avanço "notável". Foram 120 mil toneladas por trilhos, ao passo que, pelas estradas, foram transportadas 137 mil toneladas.