Título: Rússia promete levantar embargo às carnes de SC
Autor: Alda do Amaral Rocha
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Agronegócios, p. B14
O ministro da Indústria da Rússia, Boris Alioshin, disse ontem, após reunião do Conselho Empresarial Brasil-Rússia, que o país retomará em breve as importações de carnes de Santa Catarina. A reabertura de outros Estados dependerá, segundo ele, do resultado da visita de uma missão de veterinários russos ao Brasil, o que deve ocorrer "em pouco tempo". A Rússia suspendeu, em dezembro passado, as compras de carnes do Mato Grosso do Sul, Paraná, Mato Grosso, São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina - por causa da confirmação de casos de aftosa nos dois primeiros Estados. Nesta semana, o país levantou o embargo à carne gaúcha. Alioshin disse que a abertura de Santa Catarina foi uma solicitação do Brasil. O ministro não mencionou datas, mas fontes do mercado ouvidas pelo Valor afirmaram que o fim do embargo deve ser anunciado no fim da semana que vem. Segundo o ministro russo, resolver a questão do embargo é de interesse dos dois países. "A Rússia valoriza a carne brasileira. Em 2005, compramos 1 milhão de toneladas", afirmou. Ele refutou acusações brasileiras de que o embargo não tem base técnica e disse que a Rússia está cumprindo o acordo sanitário acertado com o Brasil. Pelo acordo bilateral, Estados que registrarem aftosa ficam dois anos sem exportar à Rússia e os limítrofes, um ano. Durante a reunião do Conselho Empresarial Brasil-Rússia, o primeiro-ministro russo, Mikhail Fradkov, defendeu que os dois países ampliem a cooperação em outros setores, como na área científica. "Os interesses são bastante amplos. Não se limitam só às exportações e importações de produtos agrícolas e minerais", afirmou. Ele disse, inclusive, que há interesse da Gazprom, a estatal do gás russa, de participar do projeto de gasoduto entre Venezuela e Argentina, que passará por Brasil e Uruguai. Fradkov sequer fez menção ao comentário feito na abertura do encontro por Pratini de Moraes, presidente do conselho empresarial do lado brasileiro e da Abiec, sobre o fato de a Rússia ter proibido as compras de carnes de Rio Grande do Sul e Santa Catarina por causa de um foco de aftosa "que estava a cerca de 2 mil quilômetros". O primeiro-ministro foi presenteado com um berrante pelo conselho e representantes da Federação das Indústrias de Santa Catarina entregaram a ele um documento mostrando os efeitos do embargo à economia do Estado. Para o presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Carne Suína, Pedro de Camargo Neto, se a Rússia não reabrir Santa Catarina, o Brasil deve retirar o apoio à entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC). Sobre o fato de Fradkov, que não falou com a imprensa, ter enfatizado a ampliação dos negócios em outras áreas que não a agricultura, o ministro Boris Alioshin disse que "cada país oferece aos demais o que pode fazer de melhor" e acrescentou que a "Rússia não está satisfeita" com o balanço das trocas comerciais, que ficou em US$ 3,6 bilhões em 2005. Desse total, US$ 2,9 bilhões foram exportações brasileiras e US$ 722 milhões, vendas russas ao Brasil. Antes, no encontro, foi assinado acordo de cooperação entre a Vale do Rio Doce e a russa Tise, para projetos na área de carvão mineral. O presidente do conselho empresarial no lado russo, Ara Abramian, disse que a Camargo Corrêa tem projeto para uma fábrica de cimento na Rússia e construção de central hidrelétrica no Brasil, com parceiros russos.