Título: Câmbio flutuante amortece turbulências, diz Tombini
Autor: Campos, José Roberto
Fonte: Valor Econômico, 03/08/2011, Finanças, p. C8

Conjuntura: BC não deve apostar reputação para sustentar cotação artificial

De São Paulo O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vê no sistema de câmbio flutuante um amortecedor dos custos de adaptação a turbulências externas que poderão atingir o Brasil. No evento "Cenário para investimento de médio prazo no Brasil", realizado na BM&FBovespa, que marcou o pré-lançamento do novo portal do Valor, ele citou a flutuação cambial como um aliado importante no ambiente de incertezas que poderão advir do "adiamento do prazo de normalização das condições financeiras globais".Com isso, o BC parece sinalizar que, apesar das recentes medidas tomadas para combater a especulação com o real no mercado de derivativos por capitais de curto prazo, a instituição não apostará sua reputação para sustentar uma cotação artificial da moeda. A ação do BC tentará estabelecer a difícil separação entre o que é uma tendência inexorável de valorização do real ao longo do tempo e o que é efeito de jogadas especulativas, cujos efeitos caminham na mesma direção da apreciação do real. Tombini vê "maior dramaticidade em algumas áreas" no cenário externo, fonte de potenciais contratempos. Na zona do euro, as medidas tomadas para enfrentar a crise da dívida soberana não parecem ter sido suficientes para debelar expectativas fortemente negativas.

Nos EUA, a economia mostra uma "sistemática perda de dinamismo" ao mesmo tempo em que há o "esgotamento da margem de manobra da política fiscal" e a decorrente "perda de possibilidade de novos impulsos fiscais", como ficou demonstrado pelo impasse sobre a elevação do teto da dívida pública no Congresso americano. A consequência imediata dessas crises será "o baixo crescimento da economia global pelos próximos anos".

Para a economia brasileira, essas crises trazem desafios. Nesse cenário, segundo Tombini, o real é agora uma opção tanto para alocação de recursos como para diversificação de riscos. O Brasil se tornou "um polo de atração de capitais de todos os tipos, dos investimentos de longo prazo aos especulativos de curto prazo".

A intensidade da valorização da moeda brasileira, inevitável no caso, é outro assunto, que comporta medidas da autoridade monetária. "Não sejamos ingênuos", advertiu. "Há pressões de posições alavancadas que podem colocar em risco o sistema financeiro". A aposta do mercado em uma direção é sempre uma fonte de perigos.

Tombini desenhou um quadro de instabilidade à frente para mostrar que agora, como em 2008, o câmbio pode se tornar volátil e suscetível de rápidas desvalorizações, com poder destrutivo sobre bancos, empresas e seus acionistas. "Não podemos nos descuidar. Precisamos ficar vigilantes, tomando medidas tempestivamente", disse.

Tombini também afirmou que, se houver uma deterioração no exterior, as medidas preventivas adotadas em 2008 e que já foram desativadas poderão ser rapidamente reintroduzidas.