Título: Expectativa dos analistas é de continuidade
Autor: Alex Ribeiro e Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Finanças, p. C2

As mudanças anunciadas ontem na diretoria da autoridade monetária não devem levar a alterações na política monetária. Essa é a expectativa de economistas e analistas ouvidos ontem sobre a troca de titulares nas diretorias de Normas, Internacional e de Estudos Econômicos do Banco Central (BC). "Atualmente, a política monetária tem um perfil bastante institucionalizado. O BC tem metas que devem ser perseguidas de modo transparente, não há liberdade para se fazer o que quiser", afirmou o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, ontem em São Paulo durante o Fórum Econômico Mundial. Fraga considerou normal a troca de diretores. "Os que estão saindo fizeram excelente trabalho e os que estão entrando são profissionais de primeiríssimo gabarito. Acho que é normal esse rodízio ao longo dos anos, ninguém vai para lá para ficar o resto da vida. O Banco Central foi muito feliz na escolha dos sucessores dos excelentes nomes que saíram", comentou. "A saída do Alexandre Schwartsman (da Área Internacional) já era esperada há muito tempo, acho que isso não causa nenhuma surpresa e não tem nada a ver com qualquer outro tipo de mudança que esteja ocorrendo no Ministério da Fazenda", disse o presidente do Banco Itaú, Roberto Setubal, no Rio durante o encontro anual de presidentes de bancos latinoamericanos promovido pelo Institute of International Finance (IIF). Setubal acrescentou que, para ele, "os nomes (dos novos diretores) que estão sendo apresentados são bastante bons e vão dar certamente continuidade às políticas". Para Adauto Lima, economista do Banco WestLB do Brasil, as mudanças no BC são positivas. "Os novos integrantes deixam o BC mais técnico", afirmou. Com eles, a independência do Banco Central se torna ainda mais viável e necessária, acredita Adauto. Carlos Cintra, gerente de renda fixa do Banco Prosper, disse não esperar nenhuma mudança importante na condução das políticas monetária e cambial por conta da "dança das cadeiras" no Banco Central. Para ele, a reação tranqüila do mercado financeiro mostra que o efeito das mudanças no comando do BC é "neutro". Cintra disse que conhece bem o trabalho de Mário Mesquita, o novo diretor para Estudos Especiais, e o considera um profissional "muito bom". Por outro lado, Cintra disse que não conhece Paulo Vieira da Cunha, o novo comandante da área Internacional mas disse que, pelo currículo divulgado pela imprensa, "não deixa nada a desejar" para o exercício do cargo. "A tendência é não mudar nada. A área Internacional do BC já vinha equacionado a questão externa, já vinha comprando Bradies (títulos da dívida externa brasileira, remanescentes da renegociação dos anos 80), refazendo as reservas, não há mais muito o que fazer", afirmou o executivo do Prosper. Uma sugestão que ele deu ao novo ocupante da área Internacional é avançar na questão da flexibilização das regras cambiais, uma discussão que já tinha sido iniciada no governo Fernando Henrique, voltou recentemente com a proposta de abertura de contas em dólares para os exportadores, recebeu muitas críticas e arrefeceu. "Não quero dizer que deva ser tomada uma decisão a toque de caixa, mas é um assunto importante e é preciso discuti-lo", afirmou Cintra.