Título: Aposentado do Banco Central, Darcy é a memória viva do Copom
Autor: Alex Ribeiro e Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Finanças, p. C2

O ex-diretor de Normas do Banco Central (BC), Sérgio Darcy, é a memória viva do Comitê de Política Monetária (Copom). Ele assumiu a função de diretor em setembro de 1997, pouco mais de um ano após a criação do Copom, em junho de 1996, e se tornou o membro que de mais reuniões participou. Nos primeiros anos, o Copom gravou suas reuniões, mas parou de fazê-lo a partir de 1999, com a entrada de Armínio Fraga na presidência da instituição. As gravações dos primeiros anos estão em lugar desconhecido, e Darcy é a pessoa que, de memória, pode dizer o que se passou em maior número de reuniões. A participação de diretores da área administrativa no Copom foi uma decisão de seu criador, o então diretor de Política Monetária do BC, Francisco Lopes. Para ele, pessoas com formação diferente poderiam oxigenar as discussões com outras visões. Funcionário aposentado do BC, Darcy construiu a sua carreira na área de Normas, na qual foi chefe de divisão, chefe de departamento e diretor. Nesse período, teve forte influência na criação e aprovação de regulamentos em áreas diversas como regulação prudencial dos bancos, sistema financeiro da habitação e na defesa do consumidor se serviços bancários. Fornecia subsídios para a maior parte das decisões do Conselho Monetário Nacional (CMN). Paciente (embora às vezes confuso), era presença assegurada nas entrevistas que explicavam as decisões. Sempre teve o hábito de ouvir representantes de bancos e clientes e de testar, a partir de sua experiência pessoal, a eficácia das normas aprovadas. Foi por pedido de comerciantes, por exemplo, que decidiu obrigar a impressão nas folhas de cheques da data da abertura da conta corrente em determinado banco. Decidiu aperfeiçoar a norma quando um filho, que sempre foi cliente do sistema financeiro, decidiu trocar de banco e teve o cheque recusado no Rio Grande do Sul, porque a conta tinha menos de seis meses. A partir de então, os cheques passaram a dizer desde quando o emitente era cliente do sistema financeiro, e não de um banco em particular. Darcy era o principal interlocutor do setor financeiro imobiliário no BC e ajudou a formular e encaminhar praticamente todas as mudanças mais recentes, responsáveis pelo renascimento do crédito imobiliário nos últimos três anos. Foi ele o "árbitro" do acordo fechado entre os bancos e a indústria da construção para liberação dos recursos do financiamento de imóveis que estavam há anos travados por uma questão relacionada ao Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS, um subsídio dado pela União para os mutuários da casa própria que não conseguiam acompanhar os reajustes na época da hiperinflação). Darcy deixa para seu sucessor, no entanto, dois grandes imbróglios do financiamento à casa própria, ambos envolvendo inadimplentes com os bancos privados. Uma parte são os contratos em que as dívidas são superiores ao valor de avaliação dos imóveis. Segundo uma fonte que acompanha o assunto de perto, são quase 30 mil contratos, envolvendo cerca de R$ 2,5 bilhões - estimativa superficial - em que os bancos não têm como executar os inadimplentes. Eles vinham negociando com o BC e com o Congresso duas alternativas para o problema: compensação tributária ou abatimento dos créditos das exigibilidades sobre a caderneta de poupança (65% do saldo deve obrigatoriamente ser aplicado em financiamento de imóveis). Os próprios bancos reconhecem, no entanto, que ambas as alternativas são de difícil aceitação.