Título: Tesouro deve fazer nova emissão externa em reais
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Finanças, p. C3
O Tesouro Nacional brasileiro pretende fazer, ainda este ano, uma nova emissão de títulos de dívida externa denominados em reais. A intenção foi manifestada ontem pelo novo secretário do Tesouro, Carlos Kawall, em seu segundo dia no posto. Em sua primeira entrevista coletiva à imprensa como secretário, ele anunciou que vai manter a atual estratégia de gestão da dívida pública. E para deixar claro o compromisso, escolheu como secretário-adjunto, nessa área, o atual coordenador da dívida pública, Paulo Valle. Valle assumirá, nos próximos dias, o posto ocupado por José Antônio Gragnani. Motivada pela decisão pessoal de estudar no exterior, a saída dele já estava previamente acertada. "A mensagem que eu queria dar, com essa transição, é sobretudo a da continuidade na gestão da dívida. Nós não vamos fazer nada de fundamentalmente diferente", afirmou Kavall, definindo como "espetacular" o trabalho feito durante a gestão de Levy. Segundo complementou depois Paulo Valle, continuam válidas todas a metas do Plano Anual de Financiamento, tanto para a dívida interna quanto para a dívida mobiliária total do Tesouro. Os demais secretários-adjuntos permanecem. Jorge Khalil Miski continua responsável pelo relacionamento com Estados e Municípios; Tarcisio Godoy, pela área fiscal e Líscio Camargo, pelas relações institucionais. Numa alusão ao alongamento de prazos e à redução da exposição a riscos cambiais, Kawall disse que "salta aos olhos" a melhora obtida na composição da dívida mobiliária externa depois que a administração desse passivo saiu do Banco Central e foi assumida pelo Tesouro. Na sua opinião, "os claríssimos progressos" em relação à dívida ajudaram a reduzir a vulnerabilidade da economia brasileira a fatores externos e, por consequência, o risco atribuído pelos investidores internacionais ao país. Ele acredita que "num futuro próximo" o Brasil atingirá o grau de investimento, classificação de risco mais segura para os investidores. Ao defender as emissões externas em reais, Kawall explicou que elas "ocupam um espaço complementar à dívida interna", pois permitem ao Tesouro atender à demanda por aplicações denominadas em moeda nacional a prazos mais longos do que os dos títulos internos. Quanto à dívida interna, ele disse que a ordem é continuar a perseguir o alongamento de prazos e a redução da parcela pós-fixada atrelada à taxa Selic. No lugar dos "selicados", que tornam a dívida mais sensível a oscilações da taxa de juros de curto prazo, Kawall quer mais papéis com remuneração prefixada e títulos vinculados a índices de preços. "Paulatinamente, a cultura inflacionária e a cultura dos títulos cambiais ficaram para trás. Agora é preciso vencer a cultura do CDI", afirmou, referindo-se à taxa diária dos negócios interbancários , uma espécie de espelho da Selic, muito próxima dela, que serve como referência de desempenho para muitos fundos de aplicação financeira e até fundos de pensão. A superação da "cultura do CDI", no entanto, deve ser conduzida pelo Tesouro com "muita cautela, sem movimentos forçados", defendeu o secretário. Perguntado sobre a meta anual de superávit primário do setor público, ele esclareceu que, por enquanto, não existe nenhuma solicitação para que seja perseguido um esforço fiscal superior a 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, esse patamar de superávit "é adequado" para se garantir a redução paulatina da dívida pública como proporção do PIB.