Título: Banco do Brasil fecha parceria com a Lojas Maia
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Finanças, p. C4

O Banco do Brasil (BB) anunciou, ontem, o fechamento da primeira parceria de financiamento ao consumo e venda de produtos e serviços financeiros com uma rede de varejo. O acordo foi feito com a Lojas Maia, rede eletrodomésticos e móveis, com faturamento anual de R$ 400 milhões, 110 lojas em sete estados do Norte e Nordeste, e sede em Cabedelo, cidade satélite de João Pessoa (PB). Pelo acordo, o BB vai financiar as vendas a prazo da Lojas Maia; criar um cartão private label híbrido para a rede, com bandeira Visa; oferecer produtos de capitalização e seguros nas lojas; e transformar os pontos de venda em correspondentes bancários. "Será uma parceria completa", disse o vice-presidente de varejo e distribuição do BB, Antonio Francisco de Lima Neto, que pretende, no prazo de cinco anos previsto na parceria, chegar a uma carteira de R$ 2 bilhões. A Lojas Maia foi seriamente assediada por outros bancos interessados na parceria. Houve praticamente uma licitação, comparou o diretor-presidente, Arnaldo Dantas Maia, que fundou a rede há 46 anos. Nada menos que dez bancos e financeiras participaram das negociações, que duraram seis meses. "Estavam todos lá", disse o diretor presidente, evitando relacioná-los. De 2004 a 2005, a Lojas Maia teve uma parceria com a Losango, braço de financiamento ao consumo do HSBC; e, mais recentemente, trabalhou com interveniência com o Banco Fibra, informou Ângela de Araújo Maia, diretora da rede. Como disse Lima Neto, as parcerias com rede de varejo são o caminho para os bancos alcançarem as pessoas que ainda não são correntistas. Dos 2 milhões de clientes da Lojas Maia, apenas 20% têm conta no BB. Logo, há um bolo nada desprezível de 1,6 milhão de clientes a prospectar. O diretor financeiro da Lojas Maia, Marcelo Maia Tavares de Araújo, acredita que boa parte não é bancarizado. Dantas Maia explicou que o grupo gostou da "abrangência do acordo" do BB e, naturalmente, do poder de fogo do banco. O acordo prevê a existência de um comitê gestor, composto por dois membros de cada lado, que vai periodicamente avaliar os negócios e verificar a necessidade de novos produtos. "O varejo é muito dinâmico e exige ações rápidas", disse Dantas Maia. Para a Lojas Maia, que até então usava o caixa próprio para bancar as vendas financiadas, que representam 75% do total, o acordo libera capital para os planos de expansão e fortalece as defesas contra o avanço das redes de varejo do Sudeste. "Já fomos muito assediados", afirmou Dantas Maia, que tem uma cobiçada carteira de 2 milhões de clientes ativos. De um total de 40 novas lojas previstas para este ano, a rede já abriu 23. O acordo prevê que o BB vai financiar as vendas da Lojas Maia em até 48 meses em comparação com a média atual de nove meses, com os recursos do próprio grupo. As grandes redes de varejo já fizeram suas parcerias: Pão de Açúcar e Lojas Americanas com o Itaú; Casas Bahia com o Bradesco; e Magazine Luiza e Ponto Frio com o Unibanco. O Banco do Brasil, que tradicionalmente não trabalhava com quem não era cliente, mudou de estratégia e entrou "atrasado" no movimento. "A partir de agora vamos atuar numa arena nova", disse Lima Neto. A saída foi buscar parceiros da área de varejo fora dos grandes centros do Sul e Sudeste. O BB não está sozinho na onda. Certamente a Losango e a financeira francesa Cetelem já declararam o interesse pelas parcerias no Norte e Nordeste. Sem falar na disputa que houve pelo HiperCard, cartão de crédito da rede de de supermercado BomPreço, adquirido pelo Unibanco, em 2004. A estratégia tem fundamento econômico. Segundo dados do IBGE, as vendas de varejo de 2005 saltaram quase 20% no Nordeste e 16% na região Norte em comparação com 4,8% da média nacional. No Sudeste, as vendas cresceram 5,3%; e no Sul, apenas 0,4%. Para os economistas, enquanto o Sul foi prejudicado pela quebra da safra, o Norte e Nordeste ganharam com o aumento da renda, ampliação dos programas de transferência de renda do governo federal e crescimento do consignado do INSS.