Título: Para BBVA, burocracia do Brasil limita crescimento
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2006, Finanças, p. C10
O Brasil deveria aspirar a um crescimento econômico maior e ter "um pouquinho mais de ambição" na realização de reformas, como a do sistema judiciário e trabalhista, além de outras que reduzissem a burocracia e ampliassem o dinamismo do setor privado. Essa é a opinião do economista-chefe do BBVA, o espanhol José Luis Escrivá Belmonte, que esteve ontem em São Paulo para encontro com empresários espanhóis após estadia em Belo Horizonte para a reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Sua visão sobre o país é sobretudo positiva, diz, pois o governo Lula conseguiu trazer de volta a estabilidade e conter a inflação. "Graças à firmeza na política fiscal e monetária, o Brasil hoje está blindado e os mercados estão respondendo bem, mesmo no período pré-eleitoral", afirma. Mas a economia ainda é "pesada" e a burocracia limita o crescimento, acredita. Ele cita o enorme número de licenças necessárias para a abertura e o fechamento de empresas ou para a importação ou exportação de mercadorias. "As reformas que o governo brasileiro vem adotando vão na direção correta, mas precisariam ser mais rápidas e de dimensão maior, apesar das resistências políticas", afirma. Belmonte acredita que o Brasil terá espaço para manter a política de corte nos juros internos, o que vai ajudar o país a crescer, pois o cenário internacional é favorável. Ele prevê expansão de 4% ao ano na economia mundial. Belmonte não vê riscos de propagação dos ataques especulativos às moedas da Hungria, Islândia, Nova Zelândia, Polônia e Austrália. Segundo Belmonte, esses países vinham mantendo modelo de desenvolvimento parecido com o dos países asiáticos antes da crise de 97: a demanda interna era financiada pelos recursos externos, o que gerava déficits em conta corrente que, no longo prazo, são insustentáveis. Mas, hoje, a situação dos emergentes, inclusive Brasil, é bem diferente da vivida em 97, compara. Agora, a economia da maioria dos países emergentes é mais aberta do que era em 97. O superávit em conta corrente e o sistema financeiro mais sólido reduzem a vulnerabilidade às crises cambiais. O câmbio flutuante e a inflação controlada graças, inclusive, às políticas fiscais e monetárias rigorosas, trazem tranqüilidade aos investidores. "As crises se amplificam quando o sistema financeiro é pouco transparente e assume riscos em demasia", diz. Belmonte também não vê sinais de uma retração na liquidez para os emergentes por causa da alta de juros forte demais nos países ricos. "A probabilidade de isso acontecer existe, mas é pequena, visto que há forças da globalização que seguram a inflação no mundo e tornam desnecessário um aperto monetário maior", acredita. Os mercados de trabalho asiáticos e os ganhos de produtividade nos Estados Unidos limitam a alta de preços, mesmo com o petróleo nos níveis atuais, diz. A tão famosa "bolha" no mercado imobiliário americano também não preocupa, pois parece estar murchando lentamente. "A aterrissagem é suave", avalia. O que mais preocupa Belmonte é que "algum problema geopolítico" em países como o Irã traga descontinuidade na produção de petróleo e leve os preços a níveis de US$ 90 a US$ 100 o barril.