Título: Mudanças pretendiam transformar holding na Petrobras do setor elétrico
Autor: klein, Cristian
Fonte: Valor Econômico, 25/07/2011, Política, p. A8

O presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, é um quadro técnico convidado pela presidente Dilma Rousseff. Segundo diz, a presidente deixou claro que o compromisso era com ela e com o ministro da Pasta. O que o deixa protegido, segundo ele, do assédio de políticos: "Não tenho compromisso com mais ninguém".

"Nunca recebi uma ordem que empresarialmente não pudesse atender", diz. Sobre Furnas, a mais polêmica entre as controladas pela Eletrobras, ele é taxativo ao defender a gestão do atual presidente, Flávio Decat, a quem chamou de mestre. "O que eu sei te falar é que quem manda em Furnas é o Decat".

Ele presidiu a Cemig, de onde se aposentou, e no ano passado, a então candidata o encontrou Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais. Quando o empresário Robson Andrade (dono da Orteng e atual presidente da Confederação Nacional da Indústria) quis apresentá-los, Dilma respondeu: "Tentei levá-lo para o governo diversas vezes, mas ele nunca quis".

A troca de nomes em diretorias do setor elétrico visava atender ao objetivo de fazer a integração entre as estatais do setor e a holding Eletrobras e transformá-la na Petrobras do setor elétrico. Por enquanto, o que as torna parecidas é apenas a ausência do acento no nome, retirado da Eletrobras no ano passado. Uma importante fonte ligada à companhia é taxativa: "A realidade é que o segundo escalão da Eletrobras é que continua mandando na empresa".

Apesar da confiança da presidente nos comandantes das duas empresas, as diretorias tanto da holding como das demais subsidiárias seguem intactas.

Carvalho Neto diz que a afirmação "era um pouquinho verdade e muita brincadeira", e como bom mineiro, evita demonstrar intimidade com a presidente. Também faz questão de deixar claro a hierarquia do cargo, frisando sua desvinculação política: "Eu me reporto ao (ministro de Minas e Energia) Edison Lobão. Isso ela (Dilma) deixou claro. Me reporto a ele, que naturalmente segue as diretrizes. Sigo as diretrizes dela indiretamente através do ministro. Ele é o meu chefe".

O próprio Carvalho Neto tem como diretores dois ex-presidentes da Eletrobras, Valter Cardeal (diretor de Geração) e José Antonio Muniz Lopes (de Transmissão). O único diretor nomeado por ele foi Marcos Aurélio Madureira da Silva, diretor de distribuição, que foi da Cemig e da Energipe.

Fontes do setor próximas às empresas dizem que Chesf e Furnas, donas de orçamentos conjuntos de R$ 17 bilhões, continuam sendo as mais difíceis de lidar. E foram justamente nas linhas de transmissão das duas estatais que ocorreram os maiores apagões no governo do PT, em 2009 e neste ano.

A Chesf ainda se recusa a utilizar o nome Eletrobras e a expectativa de que pelo menos o presidente seria alterado não se concretizou até agora. Com sede em Pernambuco, a Chesf foi uma das protagonistas na "revolta" das subsidiárias com o início de uma estruturação da Eletrobras que deixe o centro de decisão na holding. Funcionários chegaram a promover manifestações contra, acreditando que a Chesf ficaria menor no plano nacional. O presidente da empresa, Dilton da Conti Oliveira, indicado pelo PSB, diz que isso já foi resolvido. Mas pequenos detalhes chamam a atenção, como a recusa da empresa a adotar a marca Eletrobras como fizeram outras subsidiárias. Nem mesmo o site da companhia a coloca como empresa do grupo.