Título: Aumento de gastos ajuda alta do PIB, diz Mantega
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2006, Brasil, p. A3

O ministro da Fazenda Guido Mantega defendeu o aumento que está ocorrendo nos gastos públicos como uma forma de alavancar o crescimento da economia brasileira e garantir um Produto Interno Bruto (PIB) entre 4% e 4,5% neste ano. No entanto, Mantega ressaltou que "o que mais cresceu na expansão dos gastos do governo foi o investimento". No primeiro trimestre de 2006, o investimento público chegou a R$ 2,3 bilhões, um aumento de 77% em relação ao mesmo período ano passado, segundo dados divulgados pela secretaria do Tesouro Matuiti Mayezo/Folha Imagem Ministro Guido Mantega na Fiesp: investimento impulsionou o gasto público

Em apresentação a industriais paulistas ontem em São Paulo, o ministro também fez questão de salientar que as receitas crescem a um ritmo menor devido a desonerações tributárias. Só neste ano, segundo ele, o governo irá deixar de arrecadar R$ 19,24 bilhões com medidas como corte de tributos na cesta básica, para aquisição de bens de capital, incentivos à inovação e pacotes de estímulos a micro e pequena empresa, por exemplo. Em 2005, foram R$ 13,1 bilhões. "Queremos reduzir a carga tributária para dar competitividade às empresas brasileiras", enfatizou.

O ministro, porém, minimizou um possível impacto do aumento de gastos na taxa de juros básica, a Selic. Com mais gastos o governo estimula a economia, o que pode gerar pressão por aumento de preços e, conseqüentemente, um novo ciclo de aumento de juros. Para Mantega, isso não acontecerá, pois à medida em que o governo fizer o superávit primário prometido , cortar gastos menos prioritários e manter o aprimoramento da gestão de setores como a Previdência, a relação dívida/PIB será reduzida. "Precisamos enxugar o governo onde for possível. Isso não significa reduzir programas sociais", disse.

Irritado com as perguntas sobre se os juros continuarão a cair e qual será a magnitude dos próximos cortes na Selic, Mantega afirmou que agora é o momento de olhar e discutir o crescimento. "Daqui a pouco vocês vão ver que a pauta não será mais juros, câmbio, tudo isso vai ser coisas normais. O que temos que discutir é se o crescimento será de 4%, 4,5% ou 5%. Se o crescimento será mais no setor de bens duráveis, se o agrícola vai se recuperar ou não, se as exportações continuarão crescendo".

O aumento dos investimentos do setor público consegue estimular o setor privado, na avaliação do ministro. Ele salientou que o mercado interno será a mola propulsora do crescimento neste ano e também ressaltou a importância dó bom desempenho da indústria. Para ele, esse setor da atividade econômica poderá crescer até 6%. Mantega reafirmou seu otimismo e disse que não há falta de investimento no país. "Pelo contrário, ele está em franca ascensão esse ano. O setor de bens de capital foi o que mais cresceu em janeiro e fevereiro", disse. E completou que há recuperação no setor da construção civil e aumento do consumo aparente de bens de capital. Segundo ele, o Brasil caminha para um patamar de investimento muito superior ao do ano passado.

Mantega também comemorou o superávit primário de 4,39% do PIB neste primeiro trimestre. "Se foi a Petrobras, se foi o governo ou o BNDES, não importa. O que importa é que a meta tem que ser cumprida pelo conjunto: governo central, estatais e governos regionais. Estamos numa situação tranqüila e vamos cumprir a meta", completou.