Título: Mensalão tem o 1º condenado
Autor: Fagundes, Ezequiel
Fonte: Correio Braziliense, 02/09/2010, Política, p. 9

Investigações apontaram que o advogado Rogério Tolentino recebeu em sua conta-corrente, de uma só vez, depósito de R$ 1,8 milhão

Belo Horizonte Depois de cinco anos de investigações, saiu a primeira condenação contra um dos 39 acusados de envolvimento no esquema de corrupção do mensalão do PT. Apontado como sócio do lobista-operador Marcos Valério, o advogado Rogério Lanza Tolentino foi condenado pelo crime de lavagem de dinheiro, cuja pena é de sete anos e quatro meses de prisão. Ao julgar procedente a ação penal oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal em Belo Horizonte também condenou o réu ao pagamento de 3.780 salários mínimos (R$ 1.927.800), além da perda dos bens confiscados em 2008 e a interdição para o exercício de cargo ou função pública nos próximos 14 anos e oito meses. A condenação é resultante do desdobramento do processo do mensalão, que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

Na ação penal, o MPF sustenta que a lavagem de dinheiro foi feita para ocultar e dissimular a origem e a natureza dos valores movimentados pela organização criminosa responsável pelo mensalão. Esses recursos teriam sido obtidos a partir da prática de crimes contra a Administração Pública e o Sistema Financeiro Nacional.

Segundo os investigadores, a conduta criminosa de Tolentino teria começado em 2002. Na época, foi depositado em sua conta- corrente um cheque no valor de R$ 128 mil emitido pela SMP&B Comunicação, de propriedade de Valério. Daquele ano até 2005, descobriu-se que vultosas quantias passaram pela conta bancária do acusado em operações efetuadas pela própria SMP&B.

Em um dos depósitos, Tolentino foi beneficiado com R$ 1,8 milhão oriundos dos cofres da SMP&B. Endinheirado, o advogado aplicou a bolada na compra de ações da Petrobras e da Vale. Questionado sobre a origem dos recursos, Tolentino alegou que era resultado de suas atividades profissionais.

Campanhas O MPF tem versão diferente. Para os procuradores, os recursos são fruto de lavagem de dinheiro, que, tempos depois, abasteceu o esquema do mensalão, que consistia no pagamento de propina a parlamentares e ao custeio de campanhas eleitorais de petistas e de aliados.

A versão do réu sobre a origem (do dinheiro) se choca e se desmonta com as perícias realizadas, ressaltou o juiz Alexandre Buck Medrado Sampaio, da 4ª Vara Federal de Belo Horizonte. Para sustentar sua decisão, o magistrado cita trecho da denúncia do MPF. Na peça acusatória, estão descritos os resultados de análise contábil mostrando que apenas uma parte reduzida dos investimentos de Tolentino adveio de honorários advocatícios.

O desdobramento do processo principal do mensalão em outras ações penais foi determinado pelo STF para que os julgamentos fossem agilizados. Mesmo com a condenação pela Justiça Federal em Minas, na qual cabe recurso, Tolentino segue réu no processo principal, que tem como relator o ministro Joaquim Barbosa. No total, 39 pessoas respondem por envolvimento no esquema, entre elas o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o marqueteiro Duda Mendonça e o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB).

O número R$ 1,9 milhão Valor que Rogério Tolentino foi condenado a pagar pelo crime de lavagem de dinheiro