Título: Crescimento furado
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 02/09/2010, Brasil, p. 10

IBGE aponta um aumento preocupante na emissão de gases do efeito estufa no Brasil em decorrência de queimadas e desmatamento

A perda da biodiversidade, o alagamento de áreas costeiras, o aumento da fome em função das perdas agrícolas e a difusão de doenças como a cólera, a malária, a febre amarela e a dengue. Essas são algumas das consequências da rápida elevação da temperatura do planeta fenômeno já amplamente difundido. E países desenvolvidos ou em desenvolvimento são os responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, o que coloca o Brasil em situação atípica. Isso porque, enquanto nos países mais industrializados a emissão de gases ocorre em função da matriz energética baseada em combustíveis fósseis, no Brasil, a emissão que poderia ser evitada vem da mudança no uso da terra e das florestas, mais especificamente das queimadas do Cerrado e do desmatamento da Amazônia.

Essas atividades correspondem a 57,9% das emissões brasileiras desse tipo de gás, em especial o dióxido de carbono (CO²). A destruição da vegetação natural corresponde a 1,2 bilhão de toneladas de CO² emitidas, do total de 2,2 bilhões os números são referentes ao ano de 2005. As demais atividades responsáveis pelas maiores emissões são, nessa ordem: a agricultura, a produção de energia, o tratamento de resíduos e os processos industriais. Em 2000, a emissão total do país foi de 2,05 bilhões de toneladas e, em 1990 foi de 1,35 bilhão. O índice é comentado pelo analista ambiental do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Judicael Clevelario Junior, que alerta: Esse aumento é problemático e as atividades que mais o influenciam tornam o quadro ainda pior porque desmatamentos e queimadas causam danos ao meio ambiente e correspondem a ganhos muito pequenos de crescimento.

A realidade das emissões de gases no país foi um dos destaques da publicação Indicadores de Desenvolvimento Sustentável Brasil 2010, divulgada ontem pelo IBGE. O estudo integra as dimensões ambiental, social, econômica e institucional, em busca de um perfil do Brasil em relação ao desenvolvimento sustentável. O meio ambiente traz diversos outros índices desafiadores, se a meta for a sustentabilidade. Entre eles, o fato de que, em 2008, o bioma Cerrado apresentava um índice de 48,4% da sua área total desmatada percentual de desmatamento maior do que o verificado na Floresta Amazônica. A área total desflorestada da Amazônia, que até 1991 era de 8,4% (426.400 km²), chegou a 14,6% (739.928 km²) em 2009.

De acordo com os índices revelados pelo IBGE, o meio urbano também precisa de avanços para atingir o desenvolvimento sustentável. A pesquisa aponta, por exemplo, que 25 milhões de domicílios brasileiros ainda não são considerados adequados à moradia. Ou seja, não contam simultaneamente com abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede coletora ou fossa séptica, coleta de lixo direta ou indireta e até dois moradores por dormitório. Em 2008, apenas 57% apresentaram essas caraterísticas.

Apesar dessa realidade, o país contou com um aumento no Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 21,7%, de 1995 (R$ 4.441) para 2009 (R$ 5.405). Esses valores correspondem ao valor da moeda de 1995. Se considerado o valor atual, o PIB per capita do Brasil é de R$ 14.465. A analista da coordenação de Geografia do IBGE, Denise Kronemberger, lembra, no entanto, que esse PIB ainda é muito diverso entre as regiões e estados brasileiros. A desigualdade na distribuição de rendimentos vem diminuindo, mas muito lentamente, afirma. Em 2007, o PIB per capita do Distrito Federal, por exemplo, era de R$ 40.696 o maior do país, enquanto o menor, de R$ 4.662, foi observado no Piauí. Outro índice de destaque da pesquisa foi a mortalidade por homicídio, responsável por 25,4 mortes a cada 100 mil habitantes, em 2007 (em 1992, esse índice era de 19,2 mortes a cada cem mil habitantes). Naquele ano, a taxa entre homens era de 47,7, contra 3,9 entre as mulheres.

"Desmatamentos e queimadas causam danos ao meio ambiente e correspondem a ganhos muito pequenos de crescimento

Judicael Clevelario Junior, analista ambiental do IBGE