Título: Aperto fiscal deve ter efeito pequeno nos EUA em 2012
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 02/08/2011, Internacional, p. A9

O acordo para elevar o teto da dívida e reduzir o déficit orçamentário dos Estados Unidos poderia desacelerar ligeiramente o crescimento econômico do país no próximo ano, num momento em que a recuperação continua frágil. O acordo, porém, pode também elevar a confiança entre os investidores, empresas e consumidores porque elimina as incertezas sobre se Washington agiria a tempo de impedir que o governo atrasasse o pagamento de suas obrigações financeiras e porque é um passo na direção de uma redução do déficit.

"A força da desaceleração será mínima até o fim de 2012", disse James O"Sullivan, economista da MF Global. "Os efeitos indiretos, se houver, devem ser positivos."

O acordo eleva o limite de empréstimo do governo, hoje de US$ 14,29 trilhões, em três fases e reduziria os gastos federais em até US $ 2,4 trilhões ao longo de dez anos. A primeira rodada de cortes de gastos será feita no ano fiscal 2012, que começa em 1º de outubro. Os gastos discricionários, que precisam de aprovação do Congresso a cada ano, cairiam em US$ 25 bilhões, ou 2,1%, em relação ao valor projetado em março pelo CBO, órgão do Congresso que assessora os partidos em temas orçamentários.Esses cortes reduziriam entre 0,1 e 0,2 ponto percentual a taxa de crescimento dos EUA, disseram analistas. Embora isso possa parecer insignificante, a redução ocorreria em um momento em que a economia está crescendo tão pouco que alguns analistas temem que a recuperação poderia até parar. O PIB dos EUA cresceu à minguada taxa anualizada de 0,4% no primeiro trimestre e a uma taxa de 1,3% no segundo trimestre. O desemprego continua alto, em 9,2%. Um relatório divulgado ontem mostrou que a expansão no setor industrial diminuiu em julho, e algumas empresas mencionaram que o impasse sobre a dívida poderia ter retardado encomendas. Um indicador do sentimento do consumidor em julho caiu drasticamente em relação ao mês anterior, e especialistas disseram que parte do declínio foi provavelmente causado pelo impasse em Washington. Alguns economistas esperam um impacto mais sério, pois a economia está fraca. Ethan Pollack, analista de orçamento do Instituto de Política Econômica, entidade de esquerda, diz que o plano reduzirá o crescimento do PIB em 0,3 ponto em 2012. "Estamos olhando para as previsões do PIB, e não são nada boas", disse. "Neste momento, a economia precisa de ajuda."

Embora alguns economistas concordem que tais cortes minarão o crescimento, outros dizem que controlar o déficit ajudaria, ao reduzir a tomada de empréstimos por parte do governo e, assim, liberar mais capital para uso privado.

O projeto de lei pede outros US $ 47 bilhões em cortes de gastos discricionários no ano fiscal de 2013, uma redução de 3,9% em relação aos gastos estimados pelo CBO.

Ao longo de 10 anos, o plano inclui um compromisso inicial de reduzir os gastos em US$ 917 bilhões impondo limite às despesas discricionárias, que não se aplica aos gastos com as guerras no Afeganistão e Iraque e permite ajustes para gastos de emergência. Ele inclui uma redução de US$ 350 bilhões em outros gastos de defesa.

O projeto também cria uma comissão bipartidária no Congresso que buscará cortes adicionais de US$ 1,5 trilhão. Se a comissão não chegar a um acordo, cortes automáticos de US$ 1,2 trilhão serão impostos, mas sem incluir os benefícios da Previdência Social, do seguro médico para pessoas de baixa renda Medicaid e do seguro médico para aposentados Medicare.

"É um bom primeiro passo rumo a uma consolidação fiscal significativa", disse Kevin Hassett, economista do American Enterprise Institute, entidade conservadora. "Supondo que [o acordo] seja realmente aprovado, então deveremos ouvir um suspiro de alívio."

O acordo da dívida não mexe em duas medidas aprovadas em dezembro para estimular o crescimento. Uma delas prolongou para 99 semanas o tempo de seguro-desemprego que os americanos podem receber, até o início de 2012. A outra reduziu de 6,2% para 4,2% os impostos da Previdência Social retidos na fonte este ano.

Essas medidas podem ser mais importantes para o crescimento econômico no próximo ano. A extensão dos benefícios para desempregados aumentou a renda das famílias este ano, enquanto que o corte de impostos adicionou US$ 110 bilhões aos salários que os americanos levam para casa.