Título: Especialistas divergem sobre conflitos
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2006, Política, p. A12
Apesar do discurso de união entre petistas e o governo, estudiosos do partido divergem sobre a influência que o PT terá em um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A esquerda tende a diminuir no Congresso em um momento em que o PT cria uma expectativa muito alta de flexibilidade econômica. O nível de cobrança deve aumentar no instante em que Lula despartidarizar o ministério. Dificilmente metade das pastas continuará com o PT, como é hoje. Os pontos de atrito devem crescer", prevê o cientista político Carlos Ranulfo de Melo, da UFMG.
Para a cientista política Rachel Meneguello, da Unicamp, autora do livro "PT - A Formação de um Partido" , o distanciamento entre Lula e o partido já ocorreu no ano passado e partiu do próprio presidente, e não do PT. A reaproximação , contudo, viria com o tempo. "Em algum momento, haverá uma reaproximação do governo com partido porque o presidente precisará da sustentação partidária para a relação com os movimentos sociais que majoritariamente ficaram no PT", disse.
Ambos os pesquisadores apostam em uma redução da bancada do partido, que elegeu 91 deputados em 2002, para um patamar ainda suficientemente elevado para situá-lo entre os três maiores partidos do Congresso.
"A expansão do PT nos Estados do Norte e no Nordeste, evidente com as eleições municipais de 2004, devem dar à nova bancada federal um perfil menos paulista, menos ideológico e em que os deputados se elegerão mais pelo seu potencial pessoal de votos do que pela ação da máquina partidária", aposta Ranulfo de Melo.
Já Rachel Meneguello pensa que a mudança qualitativa será limitada. A pesquisadora da Unicamp crê que a própria crise que se abateu sobre o partido deve preservar o poder da burocracia petista sobre a base parlamentar, como é hoje. "O PT não fez uma revisão profunda de seus métodos, o dinheiro para as campanhas não vai fluir facilmente e os candidatos devem continuar muito dependentes do voto de legenda. A estratégia que o partido adotou em 2002, ao privilegiar o voto na sigla, talvez continue".
A avaliação é divergente também sobre o que poderá ocorrer caso o PT volte para a oposição. "O partido tende a adotar um comportamento mais moderado em relação ao que tinha durante o governo Fernando Henrique, porque a passagem pelo Poder cria um compromisso com a governabilidade. No governo Lula, o papel de oposição xiita coube ao PFL, coadjuvante no jogo sucessório, em que o PSDB é protagonista", disse Ranulfo de Melo. "Se perder a eleição, o PT será uma oposição feroz. É uma prática que não muda na história do país. No Brasil, a oposição sempre ataca a governabilidade", disse Raquel Meneguello. (CF)