Título: Enfraquecido na direção, Campo Majoritário terá maioria no Encontro Nacional
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2006, Política, p. A12
A correlação de forças das tendências petistas no 13º Encontro Nacional do PT é semelhante à do encontro no Recife, que precedeu a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2001. Mesmo com a diminuição do poder do antigo Campo Majoritário, segmento mais conservador, na direção partidária, o grupo articulado pelo ex-ministro José Dirceu terá 60% dos delegados com direito a voto no debate das propostas para um eventual segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O grupo moderado perdeu a maioria absoluta da direção partidária na eleição interna do PT, no ano passado, mas continua com amplo apoio nos Estados.
O antigo Campo Majoritário, que agrupava os ex-dirigentes José Genoino, Silvio Pereira e Marcelo Sereno, perdeu espaço para a esquerda dentro do Diretório Nacional do partido em 2005, com as denúncias de corrupção envolvendo membros da tendência. A eleição para escolha da direção partidária reduziu o espaço dos majoritários de 55% para 42% . A esquerda aumentou de 35,5% para 39,9%. Entretanto, o Encontro Nacional, que começa hoje em São Paulo, trará um cenário diferente.
Somando o número de delegados das tendências mais à direita, os votos dos conservadores chega a 60%. Já os petistas da esquerda ficam apenas com 30%. " Embora o campo majoritário tenha acabado na direção partidária, a essência desse Encontro Nacional é a mesma do passado. A participação (do grupo) é a mesma", afirmou o dirigente Gleber Naime, chefe do grupo de trabalhos eleitorais do partido.
A definição do número de candidatos de cada Estado é proporcional à quantidade de filiados em cada Estado. O resultado obtido por cada tendência na eleição interna do ano passado influencia na escolha dos 1,2 mil delegados, mas a proporção é diferente do Diretório Nacional da sigla por conta de acordos feitos nos diretórios e pelo número de votos obtidos em cada região.
Com esse cenário, a discussão da política de alianças poderá favorecer àqueles que pretendem firmar acordos amplos, inclusive com PTB, PL e PP, partidos envolvidos com o escândalo do mensalão. "Não há razão política para não firmar acordos com partidos que compõe a base do governo Lula. Temos de aprofundar as relações com todos os setores, partidos e movimentos sociais que quiserem", defendeu Gleber Naime, do antigo Campo Majoritário.
Na tendência de centro, Movimento PT, os filiados divergem quanto à política de acordos ampla. Grupos do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Maranhão são contra acordos políticos que possam fazê-los não ter candidatura própria. O grupo de Minas do Movimento PT, que terá o terceiro maior número de delegados no encontro, não quer restrições. "O partido deve ter uma posição razoavelmente favorável às forças que deram governabilidade ao presidente Lula", defendeu Romênio Pereira, secretário de Organização do partido.
As maiores resistências virão da esquerda, do grupo que ficou em segundo lugar as eleições internas, a Democracia Socialista. "Acho muito difícil que alguém tenha coragem de defender alianças (com PTB, PL e PP) depois de tudo o que aconteceu", disse ontem o deputado Raul Pont, secretário geral do PT, membro da tendência.
Mesmo com maioria dos delegados, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá mais resistências nas negociações dos pontos de seu programa de governo para mais um mandato. No evento, os petistas farão uma aclamação para que Lula aceite concorrer a um novo mandato, mas deverão impor condições, principalmente relacionadas com mudanças na política econômica. Na última reunião do Diretório Nacional, o partido aprovou um documento com críticas fortes à atuação do programa desenvolvido pelo então ministro da Fazenda Antonio Palocci.
Os grupos de esquerda petistas comemoram o espaço conquistado para elaborar as diretrizes do programa de governo, que serão discutidas hoje e amanhã. "Esse encontro está marcado por debates anteriores e terá maior expressão coletiva", disse Raul Pont. "O texto já expressa uma postura distinta dos encontros anteriores. É um avanço positivo", afirma.