Título: Lula vai prometer economia mais ousada ao PT
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2006, Política, p. A12
O PT e o governo devem iniciar um processo de convergência depois do Encontro Nacional do partido que começa hoje, em São Paulo, segundo afirmou ontem o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, que foi presidente da sigla por três meses no ano passado. Neste cenário, os petistas esperam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalize um segundo mandato mais ousado e o partido, em troca, reduza o debate sobre os rumos do governo. Matuiti Mayezo/Folha Imagem Genro: "O PT está fazendo uma nova inflexão da esquerda para a centro-esquerda. E o presidente fará agora um gesto de convergência com o partido"
De acordo com Genro, Lula deverá falar aos militantes hoje, durante o Encontro Nacional, como um homem de partido, acenando para um segundo mandato com tônica desenvolvimentista. O PT, por sua vez, deve fazer ajustes nos documentos que divulgou sobre diretrizes de plano de governo e alianças, para se aproximar do Executivo. "Estes documentos sofrerão mais alterações", disse o ministro. Dificilmente, porém, o partido sairá do encontro sem recomendar crescimento acelerado da economia e parcimônia na hora de ceder espaços para aliados. No encontro, o presidente deverá ser lançado informalmente à reeleição.
Para Genro, "há um acordo em curso". O PT, por meio de sua direção, disse o ministro petista, "está fazendo uma nova inflexão da esquerda para a centro-esquerda. E o presidente fará agora um gesto de convergência com o partido". O governo trabalhará para que o PT saia do Encontro mais favorável a alianças, desde que condicionadas a um alinhamento nacional. "Esperem alguns dias depois do Encontro", disse Genro, ao ser indagado sobre a retomada de negociações com o PMDB.
O ministro das Relações Institucionais, sinalizou que dificilmente o presidente levará à frente negociações que não contemplem a adesão formal dos partidos à sua candidatura. "O partido está empenhado para que partamos para um sistema de aliança baseado em uma democracia de partidos e não de relacionamentos fracionados", disse o ministro, afirmando falar em nome pessoal.
"Qualquer partido que vença a eleição vai ter a preocupação de fazer um acordo dentro de um espectro ideológico e programático diretamente com direções de partido, para que esta relação tenha solidez e transparência diante da sociedade e para que os partidos sejam responsabilizados pelo que fazem. Hoje os acordos são balizados por interesses regionais e por frações de organizações políticas, o que dificulta a governabilidade e o desempenho da própria base aliada no parlamento", disse Genro.
Fará parte deste movimento de convergência uma espécie de trégua da chamada esquerda petista na pressão por mudanças na política econômica. "Há uma discussão estratégica e ideológica, uma disputa pelo comando do PT que vai demorar anos, mas evidentemente este debate não será feito este ano. Nenhum de nós será louco de travar uma batalha campal no momento de superação de uma crise gravíssima. Agora, a preocupação é ganhar a eleição presidencial", disse o secretário de Relações Internacionais da sigla, Valter Pomar, da corrente "Articulação de Esquerda".
Desde a demissão de Antonio Palocci, no fim de março, houve uma distensão nas disputas internas do PT. Há um sentimento generalizado na sigla de que a nomeação de Guido Mantega para a Pasta da Fazenda sinalizou para um segundo mandato de Lula mais aberto a ousadias econômicas, ainda que o presidente e o novo ministro tenham sido enfáticos de descartar especulações neste sentido.
"A divergência dentro do PT é a extensão da mudança que será feita no novo governo, e não da necessidade de mudar. O cenário mais provável é que o governo e o partido se modifiquem", disse Valter Pomar, indicando que haverá um esforço da esquerda petista para evitar modificações profundas tanto no documento prévio sobre programa de governo, em que se critica o comportamento do Banco Central, quanto no texto sobre alianças, que recomenda parcerias preferenciais com siglas de esquerda.
O dirigente afirma que a recuperação de Lula nas pesquisas anima o PT a lançar candidaturas em grande número de Estados: "Você realmente acredita que a campanha do Lula não terá impacto nas candidaturas estaduais e que quem tem 5% ou 6% para governador não irá subir? O PT lança candidatos porque sabe do seu potencial e da sua necessidade de se defender com as candidaturas próprias, depois de todo o trabalho de desconstrução que sofremos". Segundo levantamento do próprio partido, o PT caminha para lançar candidatura própria em 18 Estados.
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