Título: Dengue paira sobre o país
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 02/09/2010, Brasil, p. 13

Dezenove estados correm risco alto ou muito alto de enfrentar uma epidemia. Ministério antecipa em 45 dias ações de combate ao Aedes aegypti

As projeções do Ministério da Saúde para o combate à dengue a partir do próximo verão se mostraram tão alarmantes a ponto de o chefe da pasta, José Gomes Temporão, antecipar em 45 dias o anúncio das ações de prevenção contra a doença, além de ressaltar que as medidas serão intensificadas com o objetivo de que a previsão dos especialistas não se concretize. De acordo com dados divulgados ontem, 19 estados brasileiros correm risco alto ou muito alto de enfrentar uma epidemia. O plano de metas, batizado de Risco Dengue, inclui cinco tópicos: densidade populacional, incidência de casos nos anos anteriores, índices de infestação pelo mosquito transmissor da doença, os tipos de vírus da dengue em circulação, dados sobre abastecimento de água e coleta de lixo.

Temporão ressaltou que a grande preocupação do governo é combater o Aedes aegypti, mosquito vetor para a dengue. Se os resultados planejados não forem cumpridos, ainda segundo o ministro, a situação será preocupante. No Brasil, 70% dos casos de dengue concentram-se entre janeiro e maio, período de muito calor e chuva. Por isso, estamos alertando todo o Sistema Único de Saúde (SUS) com quatro meses de antecedência, para que as ações sejam iniciadas logo, afirmou o ministro da Saúde.

Pacientes Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e Sergipe são os estados considerados de risco muito alto. As unidades da Federação classificadas como de risco alto são Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Norte, São Paulo e Tocantins. Nos critérios do Ministério da Saúde, o Distrito Federal apresenta risco moderado de passar por uma epidemia. O único estado onde a dengue só foi identificada em pacientes que pegaram a vírus em outras localidades foi Santa Catarina.

INDENIZAÇÃO PARA OS ISOLADOS POR HANSENÍASE Um grupo de trabalho formado pela Advocacia-Geral da União (AGU) e pelos ministérios da Saúde, da Previdência Social e do Desenvolvimento Social, sob a coordenação da Secretaria de Direitos Humanos, vai estudar o pagamento de indenização a filhos de ex-portadores de hanseníase que foram separados dos pais por causa do isolamento compulsório dos doentes entre 1923 e 1986. O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) entregou à Presidência da República um cadastro com 4 mil nomes de pessoas que teriam sido separadas das mães logo após o nascimento ou que perderam o contato com os pais porque estes tiveram de sair compulsoriamente da própria casa após o diagnóstico da doença. Essas pessoas foram esquecidas e não tiveram auxílio do Estado, afirmou Artur Custódio Moreira de Sousa, coordenador nacional do Morhan. O Morhan quer que o Estado pague indenização única aos filhos de ex-portadores de hanseníase e estude a manutenção da pensão mensal para os casos de pessoas que apresentam problemas de saúde decorrentes do isolamento.

"Estamos alertando todo o Sistema Único de Saúde (SUS) com quatro meses de antecedência, para que as ações sejam iniciadas logo

José Gomes Temporão, ministro da Saúde

Incentivo financeiro

Os agentes públicos de saúde se movimentam rapidamente para combater o aumento de casos de dengue. Entre as medidas que serão adotadas imediatamente pelos governos federal, estadual e municipal estão mutirões de limpeza, visitas de profissionais em domicílios com possíveis focos de larvas do mosquito, aplicação de larvicidas e inseticidas por meio dos chamados fumacês e monitoramento da circulação viral. Para isso, o Ministério da Saúde já comprou, por exemplo, 100 nebulizadores portáteis, 263 mil litros de veneno contra o mosquito Aedes aegypti, 800 mil litros de soro fisiológico, 3 milhões de comprimidos de paracetamol e 1 milhão de envelopes de sais de reidratação oral.

Para ajudar os profissionais de saúde das cidades brasileiras, o ministério vai lançar um manual de diagnóstico e tratamento da dengue, além de atualizar o manual de manejo clínico em adultos.

Os municípios terão incentivo financeiro do governo federal se aderirem à portaria que obriga a inclusão de agentes de endemias nas Equipes de Saúde da Família (ESF). No total, R$ 25 milhões serão destinados a esse objetivo. O Teto Financeiro de Vigilância em Saúde recursos financeiros para prevenção de dengue e outras doenças , em 2011, será de R$ 1,02 bilhão, divididos e repassados aos gestores a cada três meses. (IS)

O número R$ 25 milhões Verba do governo às prefeituras que incluírem agentes de endemias nas Equipes de Saúde da Família

Memória De olho no tipo 4

O sorotipo DEN-4, que não era registrado há 28 anos, voltou a ser encontrado este ano em Roraima. Esse tipo de dengue não é mais grave que os outros sorotipos, mas especialistas ressaltam que quanto mais variantes da doença estiveram circulando, maior a possibilidade de epidemias. Pior: a reinfecção, que acontece quando a pessoa é infectada depois de ter sido vítima de outra variante, pode levar à dengue hemorrágica, forma mais perigosa da enfermidade.

Os quatro casos da variante registrados no mês passado em Boa Vista, capital de Roraima, deixaram as autoridades da área de saúde em alerta. Apesar disso, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, destacou, na coletiva de imprensa realizada ontem, que não haverá qualquer medida especial para combater o sorotipo DEN-4. Todas as medidas de combate foram tomadas. Houve visitas em domicílios, aplicação de inseticidas e bloqueio dos bairros com casos foram tomadas. Do ponto de vista prático, não há evidência do vírus em outros estados brasileiros, ponderou.

O DEN-4 pode ser encontrado no Continente Americano em cerca de 10 países, incluindo a Venezuela, que faz fronteira com o estado de Roraima. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que a dengue é uma das doenças infecciosas com mais incidências do mundo, que atinge cerca de 100 milhões de pessoas por ano em todo o planeta. Em 2008, o Brasil foi recordista na América Latina com 400 mil casos. Em 2010, no entanto, já foram registrados mais de 700 mil. (IS)