Título: Clonagem lidera fraudes no mercado de cartões
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2006, Finanças, p. C2

Na quarta-feira, 250 policiais federais prenderam 31 pessoas em cinco Estados. A quadrilha era especializada em clonar cartões de crédito e incluía até policiais civis. As estimativas iniciais são de que os fraudadores conseguiram roubar R$ 5,5 milhões com os cartões falsos. Fraudes como esta são cada vez mais comuns e fazem com que, para cada US$ 100 gastos com cartões de crédito Visa no Brasil, US$ 0,03 sejam perdidos com falsificações e roubo de dados.

A quadrilha presa pela Polícia Federal (PF) usava dois meios para clonar os cartões. Uma máquina conhecida como "chupa-cabras", que é colocada nos caixas automáticos e captura os dados do plástico. O outro era a "luva", dispositivo que se encaixa sobre a leitora do caixa e copia apenas o número do cartão. A senha era descoberta por olheiros ou câmaras escondidas dentro das salas com os caixas eletrônicos, conta Márcio Valério de Souza, delegado-chefe da delegacia regional de Uberaba (MG) da PF, onde a quadrilha foi descoberta. "É cada vez mais comum este tipo de crime", diz. Segundo ele, a operação ainda não terminou e novas prisões vão acontecer.

Segundo Isabel Silva, diretora de risco da Visa, equipamentos como o "chupa-cabras" têm ficado cada vez mais sofisticados. Antes, eles conseguiam armazenar cerca de 50 números de cartões. Hoje, já podem copiar mais de 200.

Os números da Visa mostram que as perdas com fraudes no Brasil são menores que no resto do mundo e vêm caindo, por causa das novas soluções tecnológicas. Aqui, perde-se US$ 0,03 para cada US$ 100 em transações. No resto do mundo, a média é de US$ 0,06. Nos anos 90, chegou-se a perder US$ 0,14. No mundo, 1% do faturamento da Visa é perdido com fraudes.

Segundo Alfredo Perez, vice-presidente sênior da Visa International, antes, os bandidos procuravam roubar o próprio cartão. Agora, o objetivo é roubar as informações. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma fraude comum é invadir sites de lojas virtuais e roubar os dados dos cartões. Recentemente, hackers americanos conseguiram acessar dados de 40 milhões de plásticos da Mastercard e outras bandeiras.

Entre as soluções que a Visa encontrou para driblar os fraudadores, está o "Verified by Visa, sistema em que o próprio banco emissor do cartão autentica as transações em lojas virtuais, ou seja, a loja não fica com os dados. Há ainda o cartão com chip, que não pode ser clonado e exige senha, e ações da Visanet (que credencia os estabelecimentos para aceitar os cartões da bandeira). No ano passado, a Visanet fez 6,5 mil treinamentos de lojistas para prevenção de fraudes e 45,2 mil visitas a estabelecimentos para esclarecer os comerciantes das ações dos fraudadores, conta Oto Pitol, diretor de risco operacional da empresa.

Outra forma de enfrentar os fraudadores são ações conjuntas das principais bandeiras, incluindo a MasterCard, sobretudo para troca de informações e desenvolvimento de novos produtos, como o chip, conta Perez. O Valor procurou a MasterCard, que não quis comentar o assunto.