Título: País promove executivos no exterior
Autor: André Vieira
Fonte: Valor Econômico, 28/04/2006, Empresas, p. B1

Ao chegar ao Brasil, em agosto de 2002, o francês Patrice Zagamé pegou o comando da farmacêutica suíça Novartis numa situação confusa: queda nas vendas, corte de pessoal e imagem deteriorada. Quatro anos depois de profundas mudanças e ajustes, ajudados por melhoria no quadro econômico, ele deu nova face ao laboratório.

Agora, Zagamé é um dos executivos que está deixando seu posto no país para assumir o cargo de presidente da Novartis na Espanha. Como ele, outros presidentes de farmacêuticas anunciaram nas últimas semanas a troca de posto.

O brasileiro Theo van der Loo, da alemã Schering do Brasil, partiu para o comando da empresa na Espanha. O também brasileiro Philippe Prufer, da americana Eli Lilly, irá ocupar um alto cargo na direção do laboratório para os países europeus de porte médio, como Áustria e Bélgica.

O rodízio de executivos em multinacionais é um processo comum, mas a indústria farmacêutica viveu um processo de paralisia nos últimos tempos, quando mostrou resultados aquém dos esperados pela matriz.

Coincidência ou não, os três executivos assumiram as farmacêuticas entre 2001 e 2002, num dos piores momentos desta indústria quando as vendas encolheram com a crise econômica.

Essa situação, contudo, mudou. O ano passado foi o melhor da década para a maioria das farmacêuticas multinacionais, o que serviu de trampolim para a carreira dos executivos. Em 2005, os ganhos oriundos da valorização do real frente ao dólar ajudaram a consolidar o desempenho das empresas.

A Novartis Brasil, uma das poucas multinacionais do setor a divulgar seus resultados no país, é um exemplo: lucrou R$ 40,46 milhões em 2005, revertendo o prejuízo de cerca de R$ 10 milhões registrado no ano anterior.

"Quando cheguei há quatro anos no Brasil, o dólar estava a R$ 2,60 e logo subiu para R$ 4. Hoje a situação é muito melhor", relatou Zagamé em jantar de despedida que reuniu outros executivos do setor, acadêmicos e parlamentares no início desta semana.

Mas a questão cambial não explica tudo. Ao assumirem o comanda das empresas, eles passaram a enfrentar o controle de preços e a entrada dos medicamentos genéricos, o que afetou fortemente as margens de produtos de inovação, foco desta indústria.

Por conta disso, fizeram mudanças importantes dentro de suas organizações, reestruturando o negócio e posicionando as empresas em um novo cenário.

"Achamos um novo caminho", disse Zagamé, que será substituído pelo presidente da Novartis em Portugal, o austríaco Alexander Triebnigg. A subsidiária convenceu a matriz a aprovar projetos de investimentos no país. A fábrica de Resende (RJ) foi ampliada, o que permitiu a nacionalização de etapas de produção do Diovan, um dos seus principais medicamentos. E a unidade de Taboão da Serra (SP) será plataforma de exportação de genéricos, um projeto que exigirá R$ 150 milhões.

Quando Prufer assumiu a Eli Lilly Brasil e Cone Sul, a farmacêutica havia deixado de produzir medicamentos no Brasil. Só importava. Ele liderou investimentos de cerca de R$ 30 milhões para adequar a fábrica a produzir medicamentos de inovação. Os remédios começaram a ser exportados e, em seu maior triunfo, o Cialis, a droga contra impotência, ultrapassou o Viagra em vendas. Para manter a liderança do Cialis, Gaetano Crupi, brasileiro que respondia pela área de negócios mundial da droga, ocupará o cargo.

A tarefa mais complicada deverá caber aos executivos da Schering, incluindo o brasileiro Van der Loo, que assumira a empresa em 2002. Apesar das mudanças introduzidas nos últimos anos, a Schering deve enfrentar o processo de integração com a alemã Bayer, que fez uma oferta de 16,5 bilhões de euros pela compra dos negócios da rival.

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