Título: Gangorra americana inquieta pregões
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2006, Finanças, p. C2
A gangorra dos juros americanos continua e traz volatilidade e inquietação mundial. O mercado internacional oscila, sem rumo certo, ao sabor dos dados da hora, invariavelmente antagônicos aos da véspera. Após ter iniciado a semana abaixo de 5%, as taxas dos treasuries de 10 anos subiram ontem a 5,07%. Apostas foram fechadas de que o Federal Reserve (Fed) não irá, em contradição ao que se depreendeu na semana passada da leitura da última ata de sua reunião de política monetária, interromper a escalada do juro básico quando certamente chegar a 5% no dia 10 de maio. Desde ontem considera-se provável elevação para 5,25% no último encontro do primeiro semestre, agendado para 29 de junho. Isso promove novas alterações de portfólio, nenhuma delas, porém, enfática ou definitiva. Afinal, hoje ou amanhã pode sair novo dado sinalizando o oposto de ontem.
-------------------------------------------------------------------------------- Dólar sobe 0,66%, no rastro dos 'treasuries' --------------------------------------------------------------------------------
Dois informes agitaram negativamente os mercados, ambos sugerindo que o aquecimento econômico americano persiste invejável a despeito do choque dos combustíveis. O primeiro veio do Conference Board: apesar da gasolina cara, o consumidor dos EUA tornou-se ainda mais confiante em abril. O indicador que afere esse sentimento ficou em 109,6 pontos este mês, a maior pontuação desde maio de 2002. Em março estava em 107,5. O segundo veio da Associação Nacional dos Corretores de Imóveis dos EUA: a revenda de casas cresceu 0,3% em março, para uma taxa anual de 6,92 milhões de unidades em comparação com as 6,9 milhões concretizadas em fevereiro.
O principal impacto produzido nos mercados locais pela alta dos juros americanos de 10 anos foi registrado no câmbio. O dólar sustentou alta durante todo o dia. Mesmo assim, o Banco Central não desistiu do seu habitual leilão de compra de moeda. Aceitou, no leilão do meio-dia, nove propostas, ao preço de R$ 2,1280. E foi exatamente essa a cotação do fechamento, com avanço de 0,66% em relação à véspera. Os analistas acreditam que apenas complicações externas têm o poder de tirar o dólar de sua trajetória de baixa. O capital externo consegue conviver com as incertezas fiscais próprias de um ano eleitoral, já que estão acostumados, em seus próprios países, com a prodigalidades no gasto público em períodos de submissão política às urnas, desde que a relação rentabilidade/risco não penda favoravelmente para os títulos do Tesouro americano.
As instabilidades externas não afetam o mercado monetário doméstico. Os juros mal se mexeram ontem no pregão futuro da BM&F e o Tesouro Nacional não enfrentou dificuldades no seu leilão semanal de títulos públicos. O CDI previsto para a virada do ano ficou estável em 14,76%, enquanto o contrato mais negociado (R$ 16,62 bilhões), para janeiro de 2008, cedeu de 14,69% para 14,68%. E o Tesouro vendeu fácil todas as 4,75 milhões de LTN que ofereceu, no valor total de R$ 3,928 bilhões. As instituições se ressentem da inexistência de oferta de LFT, mas enquanto o juro básico estiver em queda haverá demanda para os papéis prefixados. Os juros aceitos pelo Tesouro foram levemente maiores que os verificados em leilões anteriores, mas o prêmio em relação ao CDI estimado pelo mercado futuro não se ampliou. Ou seja, os credores confiam na gestão austera da política econômica e não estão embutindo nas taxas riscos políticos ou choques externos. Nem consideram uma provocação o plano de longo prazo do Tesouro de zerar a dívida interna pós-indexada à Selic.
Os prêmios do leilão de ontem revelam que não há nenhuma queda-de-braço entre o mercado e o Tesouro. Os spreads acima do CDI foram aceitáveis. A LTN com vencimento em janeiro de 2007 foi vendida a 14,83%, enquanto se prevê CDI de 14,76%. O papel com resgate em outubro do ano que vem saiu a 14,89%, para DI de 14,72%. E o lote mais longo, para julho de 2008, foi colocado a 14,92%, ante juro privado de 14,73%.