Título: Para investidor, Alckmin seria mais ousado
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 26/04/2006, Finanças, p. C8
Geraldo Alckmin seria um presidente com propostas mais ousadas de ajuste fiscal do que Luís Inácio Lula da Silva em segundo mandato. Entretanto, estaria sujeito a maior oposição a suas reformas, acreditam investidores internacionais reunidos ontem em Nova York para avaliar o risco político do país. Daniel Aratangy/Valor Roger Scher, diretor da Fitch: crescimento econômico ajuda a reduzir o risco-país
Num seminário promovido pela agência Fitch Ratings, gestores de fundos de pensão ou de investimento e executivos de bancos mostraram-se tranqüilos em relação a qualquer resultado eleitoral no Brasil, discutindo nuances de política econômica entre o PT e o PSDB. "Acho que Alckmin seria mais ousado na redução da dívida, mas teria menos apoio para aprovar reformas impopulares", afirma Jonathan Hausman, gestor de mercados emergentes do fundo de pensão de professores de Ontario (província do Canadá). O fundo é um dos novos entusiasmados investidores no mercado de dívida pública brasileiro - a participação dos investidores estrangeiros está disparando desde a concessão da isenção fiscal . O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ressaltou que a volatilidade do mercado hoje está muito menor do que em 2002.
Pelo segundo dia o presidente do BC respondeu a perguntas sobre o câmbio sobrevalorizado (se houver reversão do resultado de conta corrente, o dólar subirá e fará naturalmente o ajuste, diz Meirelles) e a disposição do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em resistir a pressões para aumento de gastos em ano eleitoral. Meirelles repetiu que o BC tem "autonomia operacional", embora não tenha independência formal.
Investidores e o diretor de riscos soberanos da Fitch, Roger Scher, concordam que o fator mais importante para a redução do risco-país será elevar o patamar de crescimento econômico. O mercado estima que o país cresça em até 3,5% este ano, bem abaixo das previsões otimistas do governo de que o crescimento pode chegar a até 4,5%.
O Brasil está classificado como "BB" com perspectiva positiva pela Fitch, o que significa uma chance acima de 50% de elevação nos próximos dois anos. O périplo do novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, pela comunidade de investidores não convenceu Scher.
"Já está claro que o novo ministro não quer uma grande margem de reserva acima da meta de 4,25%, os últimos números foram em torno de 4,3%, enquanto o ministro anterior conseguia fazer um superávit maior ao mesmo tempo em que negociava uma reforma fiscal", disse o diretor da Fitch Ratings.