Título: Esforço contra corrupção deve ter apoio, diz Marina
Autor: Lima, Vandson
Fonte: Valor Econômico, 05/08/2011, Política, p. A6

A ex-senadora Marina Silva, sem partido, afirmou ontem que os problemas de corrupção enfrentados pela presidente Dilma Rousseff (PT) em seu início de governo têm raiz na gestão anterior, de Luiz Inácio Lula da Silva. "O esforço da presidente deve ter apoio na sociedade, pois os problemas já vêm do governo anterior", afirmou, após palestra no XI Congresso do Ministério Público de Meio Ambiente, em São Paulo. Marina foi ministra do Meio Ambiente durante a gestão Lula, entre 2003 e 2008. Para Marina, as ações tomadas pela presidente frente à crise no Ministério dos Transportes são "quixotescas", porém necessárias. A ex-senadora avalia que Dilma deve buscar apoio junto à sociedade, mesmo que isso signifique contrariar interesses de sua base aliada no governo. " É preciso que se dê sustentabilidade política ao governo, inclusive para enfrentar a própria base da aliança que a elegeu. A sociedade é a melhor forma de constranger aqueles que acham que as instituições públicas podem ser privatizadas pelos partidos", observou.

Terceira colocada na disputa presidencial de 2010, Marina ressalvou, no entanto, que o governo deve ficar mais atento aos relatórios apresentados pelos tribunais de contas, pois assim se adiantaria à veiculação de denúncias na imprensa. "Boa parte dos problemas está relatada nesses relatórios. Tem de haver uma ação antecipatória às denúncias na imprensa, para evitar o dano político e econômico".

A aprovação do novo Código Florestal na Câmara dos Deputados é assunto que ainda tira a ex-ministra do sério. Durante a palestra, Marina cobrou que a presidente Dilma vete o que chamou de "código nefasto". "É o maior dos retrocessos. A questão ambiental foi usada até agora como moeda de troca para outros projetos". Na avaliação de Marina, os parlamentares têm receio de abraçarem a causa sustentável por ela não render capital eleitoral no curto prazo. "Os políticos que defendem a sustentabilidade não são sustentáveis politicamente. O prazo dos políticos é curto para projetos longos".

Marina demonstrou algum incômodo quando questionada sobre a possibilidade de Maurício Brusadin e Ricardo Young, que a acompanharam na debandada do PV, concorrerem a cargos na eleições municipais de 2012 pelo PPS. As conversas a respeito estão adiantadas, segundo dirigentes do partido. "As pessoas que participam do nosso movimento têm autonomia para fazer suas discussões. O Ricardo e o Brusadin estão fazendo uma discussão muito preliminar ainda. Se é possível manter a coerência e buscar alternativas, vai da consciência dessas pessoas. Mas não haverá nenhum tipo de estímulo pensando de forma pragmática".

Sobre o movimento a que pretende dar corpo, a ex-ministra diz que várias personalidades políticas, de diferentes cores partidárias, devem participar, como a ex-senadora Heloísa Helena (PSOL-AL). "A conversa com ela está muito boa, regada a sonho e tapioca. Ela sinalizou que quer estar nesse debate. Mas o movimento é suprapartidário. O [deputado federal] Alessandro Molon (PT-RJ) já sinalizou que participará, [os senadores] Pedro Taques (PDT-MT), Pedro Simon (PMDB-RS) e Cristovam Buarque (PDT-DF) também", finalizou.