Título: Lula intensifica ação em apoio a Mercadante
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2006, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu o senador Aloizio Mercadante como uma de suas peças-chave na disputa por um segundo mandato: o líder do governo no Senado é o candidato preferido de Lula ao governo de São Paulo e será um dos principais formuladores do programa econômico para uma nova estadia de quatro anos no Palácio do Planalto. Lula já começou a pedir votos para Mercadante a delegados petistas que escolherão entre ele e a ex-prefeita Marta Suplicy, na prévia partidária. A líderes aliados, elogiou o livro "Brasil: primeiro tempo", no qual Mercadante faz um balanço dos primeiros anos do governo e estabelece preliminares para um novo mandato. Ontem, foi ao lançamento do livro em Brasília.

Em conversa com congressistas, Lula mostrou entusiasmo pelo livro de Mercadante, que, além do balanço do desempenho dos três primeiros anos do governo do PT, compara os números apresentados pelos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso. "Lamentavelmente cometemos erros importantes. Seguramente o mais grave foi errar naquilo em que não tínhamos o direito de errar: o império da ética", diz Mercadante. "Porém, restringir todo o debate nacional a uma temática monocórdia não ajuda a definir que país queremos - nem mesmo a debelar este mal presente em todas as sociedades".

Lula gostou do que leu. O presidente também assina o prefácio. Ontem, para deixar bem claro a opção que fez por Mercadante, decidiu comparecer ao lançamento do livro em Brasília. Antes disso, deu um exemplar de presente ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também fazendo referências elogiosas às análises econômicas do autor. Na eleição passada, Mercadante já fora um dos principais formuladores do programa econômico do presidente, em especial da Carta ao Povo Brasileiro, na qual Lula estabeleceu as pontes com o capital, junto com os ex-ministros José Dirceu e Antônio Palocci. Dos três, apenas Mercadante ainda está no governo, embora no Planalto se admita que Palocci teve ter papel importante na elaboração do programa para o segundo mandato.

No livro, Mercadante especula sobre o modelo de crescimento econômico para "alavancar" o crescimento sustentado para reduzir as desigualdades sociais, discute políticas públicas que "devem ser realizadas para reduzir o abismo que separa as camadas menos favorecidas e desprotegidas da minoria abastada".

Apesar das queixas de Marta Suplicy, o presidente intensificou últimas semanas as articulações para viabilizar a candidatura de Mercadante ao Palácio dos dos Bandeirantes. Com a definição do ex-prefeito José Serra como o candidato do PSDB, a avaliação feita no Planalto é que mudou o perfil do candidato petista: em vez de um nome para uma campanha de ataques, que caberia no figurino de Marta, a eleição paulista deve incorporar questões nacionais econômicas em relação às quais acredita-se que Mercadante terá melhor desempenho que a ex-prefeita.

Além dos congressistas, Lula também já manifestou sua preferência a prefeitos do PT, que integram ao colégio eleitoral das prévias, pedindo explicitamente o voto para Mercadante. Com o apoio dado ao líder no Senado pelo deputado João Paulo Cunha - que até o escândalo do mensalão também disputava a indicação petista -, a avaliação do Planalto é que o senador vencerá a prévia partidária, se ela for disputada em condições normais de temperatura. Por isso, o presidente já se preocupa com outra etapa: tentar assegurar que Mercadante dispute pelo menos em pé de igualdade com Serra.

O projeto acalentado por Lula é a atração do ex-governador Orestes Quércia (PMDB) para compor uma aliança, formal ou informal. No primeiro caso, a articulação esbarrou na necessidade de retirada da candidatura do senador Eduardo Suplicy para que sua vaga fosse disputada por Quércia. Atualmente, o Planalto analisa um novo cenário: convencer Quércia a se candidatar ao governo do Estado, numa coligação que incluiria outros partidos aliados do Planalto, como o PSB e o PCdoB, o que poderia levar a eleição para o segundo turno. Mercadante ainda tem quatro anos de mandato. Se perder agora, volta ao Senado e pode se habilitar a disputar a prefeitura de São Paulo, em 2008. E Lula teria pelo menos dividido o eleitorado paulista, que hoje se inclina no estado em direção do PSDB.

O problema é que Serra também tenta capturar Orestes Quércia, que nas avaliações tanto de tucanos como de petistas pode dar densidade à candidatura de qualquer um dos dois partidos no interior de São Paulo. Por enquanto, os tucanos levam uma vantagem em relação ao PT de Mercadante: como nâo dispõem de um nome forte para lançar ao Senado, teriam mais facilidade para oferecer a vaga a Quércia. O problema é que foi justamente o discurso antiquercista em São Paulo que assentou as bases para a fundação do PSDB.