Título: PMDB antecipa convenção para maio
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2006, Política, p. A7

A ala do PMDB contrária à candidatura própria à Presidência da República decidiu antecipar para 13 de maio a decisão do partido sobre a entrada ou não da sigla na disputa presidencial. O anúncio foi feito ontem pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), depois de receber em sua casa, na noite anterior, o pré-candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin.

Foi uma visita de cortesia, patrocinada pelo senador Teotônio Vilela (PSDB-AL) - candidato a governador com apoio do PMDB de Renan -, mas emblemática: PSDB, PFL e PMDB cada vez intensificam mais as conversas sobre alianças eleitorais nos Estados e essas negociações aguardam definição do PMDB sobre a candidatura presidencial.

A regra da verticalização proíbe alianças eleitorais nos Estados entre partidos com candidatos diferentes ao Palácio do Planalto. Pela legislação eleitoral, o prazo para a realização das convenções partidárias que oficializarão as candidaturas é de 10 a 30 de junho.

A antecipação da decisão do PMDB ocorre num momento de fragilização da pré-candidatura do ex-governador Anthony Garotinho, bombardeado com denúncias de irregularidades no financiamento em sua campanha. O outro pré-candidato do partido, o ex-presidente Itamar Franco, não tem recebido apoio.

A candidatura de Garotinho sempre interessou ao PSDB porque levaria a disputa para o segundo turno, evitando eventual vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. Por outro lado, com Garotinho fora, tucanos avaliam que 80% dos palanques do PMDB nos Estados seriam de Alckmin. Uma dúvida, no entanto, persiste: se os votos de Garotinho migrariam para Lula ou para o tucano.

O PFL comemorou a notícia da antecipação da decisão do PMDB. O partido negocia com o PMDB alianças eleitorais em Estados importantes, como Pernambuco, onde o candidato a governador é o pefelista Mendonça Filho e o pemedebista Jarbas Vasconcelos disputa o Senado na chapa.

Segundo o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), se o PMDB descartar a candidatura presidencial será fortalecida a coligação nacional entre PFL e PSDB. Seria neutralizada a resistência de alguns diretórios pefelistas à formalização da aliança nacional, que ficariam impedidos de formar alianças estaduais com o PMDB, se esse partido também lançasse candidato ao Planalto. " Estamos convivendo com uma ansiedade muito grande nos Estados, com essa indefinição. A decisão de não ter candidato vai permitir a concretização das alianças estaduais. Se o PMDB resolver lançar candidato a presidente, será em detrimento dos Estados " , completou.

O próprio Renan enfrenta problema em seu Estado. O PMDB fez acordo com o PSDB para indicar o vice-governador na chapa do candidato tucano, o que será impossível com candidatura pemedebista a presidente. Segundo ele, 14 diretórios estaduais e 10 dos 16 integrantes da Comissão Executiva Nacional do PMDB assinarão a convocação da pré-convenção. Pelo estatuto do partido, é preciso apenas o apoio de um terço dos diretórios para que a executiva tenha de convocar a convenção.

A decisão da ala pemedebista contrária à candidatura própria foi tomada ontem, em almoço na casa de Renan, que reuniu governistas, como os ministros Hélio Costa (Comunicações) e Silas Rondeau (Minas e Energia) e o senador José Sarney (AP), e parlamentares "independentes", como o deputado Geddel Vieira Lima (BA), além dos líderes no Congresso.

Alckmin passou ontem o dia em Brasília, em articulações com tucanos e pefelistas, para tentar minar as divergências entre os dois partidos. Num gesto importante, declarou apoio à candidatura do governador Paulo Souto (PFL), da Bahia, à reeleição. Confirmando que subirá em seu palanque, Alckmin disse que Souto é "um dos melhores governadores do país".

O presidente do diretório do PSDB na Bahia, deputado Jutahy Júnior, líder da bancada na Câmara, é contra o apoio a Souto. Adversário do grupo político do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Jutahy defende aliança no Estado com o PDT - que ainda não lançou nome para a disputa ao governo -, e a candidatura do ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB) ao Senado.

Não há saída pacífica para o impasse criado no Estado. ACM não aceita acordo que inclua apoio a Imbassahy. O presidenciável tucano participou de jantar com senadores do PFL na casa do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), coordenador pefelista de sua campanha.

Na noite anterior, quando foi à casa de Renan, Alckmin encontrou deputados e prefeitos de Alagoas. Segundo participantes alagoanos, ele não conseguiu empolgar. " O encontro foi animado que nem missa de sétimo dia. Ele só ficava com aquele sorrisinho de padre, apertando mãos e tirando fotos " , afirmou o deputado João Caldas (PL-AL).

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