Título: Ex-gerente reitera denúncias contra Nossa Caixa
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2006, Política, p. A10

O ex-gerente de marketing do banco Nossa Caixa Jaime de Castro Jr. reafirmou ontem, em depoimento a deputados estaduais, o envolvimento do ex-assessor de imprensa Roger Ferreira, e do presidente do banco, Carlos Eduardo Monteiro, nos contratos irregulares firmados pelo banco com duas agências de publicidade, que somam mais de R$ 45 milhões. As denúncias, investigadas pelo Ministério Público Estadual, mostram que houve o direcionamento de recursos publicitários do banco Nossa Caixa para beneficiar a base governista na Assembléia.

O depoimento de mais de quatro horas do ex-gerente de marketing contradizem as versões apresentadas aos deputados pelo presidente do banco, Carlos Eduardo Monteiro, e a gerente de marketing, Marli Martins, que denunciaram Jaime de Castro Jr.como responsável pelas irregularidades. Depois do vencimento dos contratos com as agências Full Jazz e Colucci., o banco continuou com os contratos sem realizar licitações ou fazer pedidos formais de renovação por 18 meses, além de ter feito um aditamento de 30% do orçamento destinado às agências.

Castro Jr. afirmou que todos os contratos passavam pela direção e citou episódios em que não concordou em destinar verbas publicitárias a deputados e veículos de comunicação ligados a secretários, mas acabou vencido pelo presidente do banco. O ex-gerente de marketing garantiu que antes do término dos contratos, em setembro de 2003, as agências de publicidade avisaram o banco Nossa Caixa, mas que nada foi feito para renová-los. A irregularidade só foi sustada em junho de 2005, depois de uma denúncia anônima e de questionamentos enviados pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT).

As investigações das denúncias envolvendo a administração do ex-governador Geraldo Alckmin estão contaminadas pelo embate entre PT e PSDB em Brasília. No final do depoimento de Jaime de Castro Jr, o petista Renato Simões irritou-se com os comentários dos governistas e os chamou de "cambada". Em seguida, foi contestado pelos tucanos e o governista Waldir Agnelo (PTB) citou os ex-dirigentes petistas José Genoino, Luiz Gushiken e José Dirceu para retrucar: "Quero ver se essa cambada vai ocupar algum lugar depois das eleições de outubro". Em outro momento, o líder governista Edson Aparecido (PSDB) comemorou quando o depoente disse que nunca havia tratado diretamente das questões publicitárias com Alckmin.

Em São Paulo, o escândalo serve de base para que petistas tentem desgastar a imagem do candidato tucano. "As contradições entre os depoimentos mostram que uma CPI deve ser instalada para investigar com profundidade", disse o deputado Renato Simões (PT). O governo tenta esvaziar os depoimentos. " Os contratos não ocasionaram prejuízo para o banco. Foi constatada uma única falha, que foram 18 meses sem contrato", disse Aparecido . "Essa questão já está esgotada".

Um novo pedido de investigação dos contratos publicitários do banco por uma comissão parlamentar foi protocolado nesta semana, mas deve se juntar a outros 69 pedidos de investigações do governo engavetados na gestão Alckmin. O pedido de esclarecimentos do filho de Alckmin, Thomaz Rodrigues, deve ser levado à votação quase depois de um mês da entrada do requerimento e os governistas pretendem barrá-lo.

Quase um mês depois da desincompatibilização de Alckmin, a base governista não conseguiu aprovar um único projeto relevante.