Título: Reestruturação da Pasta será principal missão de ministro
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2011, Política, p. A7
O novo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, terá hoje com a presidente Dilma Rousseff sua primeira reunião já como indicado para a Pasta. No encontro, ela irá lhe pedir que dê andamento à reestruturação que o ex-ministro Wagner Rossi vinha fazendo no ministério.
O principal alvo das mudanças é a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão que deu origem às denúncias de irregularidades que acabaram por derrubar Rossi. A presidente deseja uma reestruturação na companhia, a começar pela área jurídica.
A ideia é abrir concursos para contratar procuradores de carreira, tendo em vista que a maior parte hoje dos defensores jurídicos são terceirizados, o que, em sua avaliação, prejudica o órgão nas demandas judiciais. Dilma também quer mudança em outras áreas, como no setor de licitações, outro foco de denúncias. Irá pedir a Mendes que faça mudanças independentemente de nomeações políticas.
O único cargo vago na Conab é a Diretoria Financeira. A vaga está disponível desde a saída de Oscar Jucá Neto, irmão do deputado e líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que detonou um arsenal de denúncias sobre o setor. Atualmente, o diretor Administrativo, Rogério Abdalla, responde pela diretoria.
Ontem, o deputado Mendes Ribeiro Filho, cujo nome foi uma escolha do PMDB levada pelo vice-presidente, Michel Temer, ao Palácio da Alvorada, na madrugada de ontem, esteve no Palácio do Planalto, onde conversou com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e com Dilma, pelo telefone, já que ela estava em uma viagem oficial a São Paulo. Em seguida, Gleisi divulgou uma nota oficial com a confirmação do nome do ministro e Mendes deixou o Palácio.
Em rápida entrevista, elogiou Rossi, dizendo que ele foi um ministro "extraordinário", que tem "muito a aprender com ele", que pretende "aprender muito para poder ajudar", irá procurar ex-ministros da Pasta e conversar bastante com Dilma. Resumiu sua atuação no início da gestão: "Ouvir, ouvir, ouvir."
Sua fala é um gesto claro ao setor do agronegócio, classe que tradicionalmente controla o Ministério da Agricultura, mas que agora irá lidar com um ministro sem muita intimidade com a área. Mendes, ao contrário dos antecessores com muita ligação à agricultura, como Rossi e Roberto Rodrigues, Reinhold Stephanes e Pratini de Moraes, não é considerado um político ruralista.
Sua atuação no Congresso Nacional, onde exerce o mandato de deputado federal desde 1995, é mais voltada para as áreas com a qual tem formação: direito e jornalismo. É dos maiores entusiastas, por exemplo, da Lei de Acesso à Informação. Por outro lado, um projeto seu que mais se aproxima da agricultura é o que institui o Dia do Técnico Agrícola ou o que "determina que nos programas de reforma agrária 20% das vagas dos assentamentos, no mínimo, sejam destinados aos filhos de pequenos produtores residentes nos municípios em que se localizam".
Por outro lado, é tido como homem de diálogo com bom trânsito político entre diversas bancadas e setores econômicos, principalmente em seu Estado, o Rio Grande do Sul. Foi lá que se filiou ao então MDB em 1974 e se elegeu vereador em Porto Alegre e depois deputado estadual.
A expectativa do Ministério é de que o novo ministro, por não ser ligado à área, não realize grandes mudanças de cargo nos primeiros dias.
Quem pode desempenhar papel importante na transição é o secretário-executivo, Gerardo Fontelles. O engenheiro agrônomo assume o cargo de secretário-executivo pela segunda vez. A primeira foi entre maio de 2009 e março de 2011.
Fontelles já exerceu várias funções no Ministério da Agricultura, entre elas, a direção da secretaria-executiva e assessoria especial do ministro, cargo que ocupava até assumir o novo posto. Ele também atuou como técnico na Presidência da República e ministérios da Indústria e Comércio, Planejamento e Fazenda.
Na Fazenda, foi secretário-adjunto da Secretaria Especial de Abastecimento e Preços e coordenador-geral das Secretarias de Assuntos Econômicos e de Acompanhamento Econômico. Além disso, foi assessor especial do ministério para commodities.