Título: PT e PMDB disputam liderança no Congresso
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2011, Política, p. A7

A substituição do ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi pelo deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) abriu uma disputa velada pela função de líder do governo no Congresso, ainda ocupada pelo parlamentar gaúcho. Na conversa com o vice-presidente Michel Temer, na noite de quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff teria confirmado que o cargo continuará ocupado por um deputado do PMDB. Mesmo assim, os interessados movimentam-se na bancada de senadores do partido e até do PT.

Entre os deputados pemedebistas, o mais cotado para substituir Mendes na liderança do governo é Marcelo Castro (PI). O nome do senador Eduardo Braga (AM) - que chegou a ser convidado antes da escolha de Mendes, mas acabou preterido para o gaúcho - voltou a circular na bancada do Senado. Acomodar o ex-governador do Amazonas resolveria um problema para o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), já que Braga apoia o governo, mas coleciona insatisfações e tem uma atuação independente.

Mas, além do cargo de líder do governo no Congresso ser considerado naturalmente do PMDB da Câmara até pelo presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), uma dificuldade para eventual indicação de Braga é que o gesto significaria tripudiar sobre o adversário dele, senador Alfredo Nascimento (AM), afastado do Ministério dos Transportes também por causa de denúncias de irregularidades na Pasta.

No PT, ressurgiu uma tímida campanha pela escolha do senador José Pimentel (CE), hoje vice-líder - que também já foi indicado para o cargo anteriormente. A campanha pela vaga de líder do governo no Congresso não é explícita, até porque esta é uma escolha da presidente e não da bancada.

A movimentação de cadeiras ocupadas por pemedebistas na Esplanada reabriu uma disputa entre a bancada da Câmara e a do Senado. Na quarta-feira, quando Rossi anunciou a decisão de demitir-se, o grupo de Renan e José Sarney (AP), presidente do Senado, tentou emplacar o senador Waldemir Moka (MS) no Ministério da Agricultura. Integrante da bancada ruralista, Moka é outro pemedebista que tem atuação independente da liderança de Renan (G-8), embora apoie o governo.

Além de não conseguir a nomeação de Moka no lugar de Rossi e de ter pouca chance de conseguir a liderança do governo no Congresso, o PMDB do Senado enfrenta uma situação embaraçosa: as denúncias de irregularidades no Ministério da Agricultura, que levaram ao pedido de demissão de Rossi, partiram do ex-diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Oscar Jucá Neto, irmão do líder do governo na Casa, Romero Jucá (RR).

O PMDB governista está irritado com Jucá porque responsabiliza o irmão pela queda de Rossi. A análise de lideranças do Senado é que a situação de Jucá é insustentável, mas Dilma não deve afastá-lo agora, para não passar a ideia de punição pelas denúncias feitas por irmão. Mas esse não é o único motivo de enfraquecimento de Jucá. Sua liderança é contestada pelo PT, por outros partidos da base e até pelo grupo de independentes do partido.

Além disso, no governo Luiz Inácio Lula da Silva, do qual também foi líder, seu papel no Senado era importante pelo bom trânsito na oposição, que tinha uma bancada forte. Agora que o governo tem maioria mais tranquila na Casa, essa qualidade de Jucá tornou-se menos relevante.

Com insatisfações no PMDB, no PR de Nascimento - que anunciou nesta semana posição de independência do governo - e em outros aliados, chegam a 36 os senadores da base governista (que soma pouco mais de 50 senadores) que acumulam queixas contra o Palácio do Planalto. A contabilidade é dos próprios governistas, preocupados com as consequências em votações de interesse do governo.

Na Câmara, um grupo de 38 deputados do PMDB também contesta a condução do líder, Henrique Eduardo Alves (RN), em mais uma dificuldade para o governo. Esses parlamentares - que reúne um grupo de representantes da região Sul, que não apoiou Dilma, e novatos do país todo - queixam-se da centralização das decisões e de falta de democracia interna. Reclamam, por exemplo, da escolha de Eduardo Cunha (RJ) para relator do Código Civil. Defendem um jurista.

No PT, o diagnóstico é que a articulação política melhorou após as nomeações das ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), mas essa relação ainda precisa ser "azeitada". A interlocução com o Planalto ainda é feita por poucas pessoas e não há discussão de pauta e projetos. Nos outros partidos, as queixas incluem, entre outras coisas, indicações para cargos não atendidas e recursos de emendas não liberados.