Título: EUA adotam sanções, mas é a UE que pode asfixiar regime sírio
Autor: Fifield , Anna
Fonte: Valor Econômico, 19/08/2011, Internacional, p. A10

O governo Barack Obama vem sinalizando há semanas a intenção de afetar o setor energético da Síria em um esforço para sufocar financeiramente o regime de Bashar al Assad. O país árabe tem um terço de suas receitas oriundas das exportações de petróleo.

Mas, mesmo com a escalada da violência após o início do ramadã, neste mês, e apesar das fortes advertências de países vizinhos como a Arábia Saudita, havia um grande problema: como pressionar o regime sírio, se o país tem uma exposição tão baixa aos EUA?

Com o anúncio de sanções feito ontem, Washington deu um poderoso sinal de sua preocupação e efetivamente desafiou seus aliados europeus a seguir os seus passos e atingir a Síria onde realmente dói: no setor petrolífero.

As sanções proíbem companhias e cidadãos americanos de fornecer ou exportar produtos para a Síria e de trazer petróleo e derivados daquele país para os EUA.

A medida ainda impede indivíduos e empresas de ter qualquer envolvimento com o setor petrolífero sírio. O governo Obama também colocou na lista negra cinco estatais energéticas daquele país.

Mas as sanções não terão quase nenhum impacto, a não ser que a União Europeia faça o mesmo.

Os EUA quase não têm nenhum envolvimento com o setor energético da Síria, mas o peso da Europa é muito maior. Os europeus recebem cerca de 95% das exportações de petróleo do país árabe e estão entre seus maiores investidores estrangeiros.

A Royal Dutch Shell e a francesa Total são importantes na área de produção. Já a Gulfsands Petroleum mudou sua sede de Houston para o Reino Unido, em 2008, para escapar das sanções americanas a Rami Makhlouf, primo de Assad e acionista da empresa.

Além disso, a maior parte dos 148 mil barris diários do petróleo sírio, tipo Souedie, tem como destino a Europa, onde é refinado em companhias na Alemanha, na Itália, na França e na Holanda.

Se a União Europeia seguir os passos dos EUA, essas vendas teriam de parar. A UE vai analisar sanções durante um encontro de diplomatas graduados hoje, e autoridades americanas esperam que medidas contra o setor energético estejam no alto da agenda.

Além de sanções na área petrolífera, são esperadas ações que afetem setores como telecomunicações e bancos e uma série de restrições à importação e à exportação de tecnologia.

Se houver um acordo para estender as sanções a setores específicos, ele deve dar início a um processo que pode culminar com uma nova legislação.

Mas será um processo complicado fazer com que todos os 27 países-membros da UE cheguem a um consenso sobre o tema, e não apenas por razões comerciais.

Alguns diplomatas expressaram o temor de que tais medidas possam resultar em uma castigo à população, como aconteceu no Iraque de Saddam Hussein. Além disso, países como a Suécia são geralmente avessos a sanções.

"Alguns Estados membros da UE são precavidos quanto a sanções por princípio", disse uma autoridade do Reino Unido.

Apesar de um chamado do primeiro-ministro britânico, David Cameron, para que Assad renuncie, o próprio Reino Unido ainda não tinha ontem uma posição clara quanto a adotar essas sanções. Essa postura, no entanto, pode mudar nos próximos dias.

"Nós vamos começar a analisar se precisamos ampliar o regime de sanções", afirmou o oficial britânico. "A questão é: como fazer isso com o mínimo impacto sobre a população?", disse.

O Reino Unido teme que as sanções prejudiquem a capacidade do regime de Assad de pagar os cerca de 30% da população que dependem diretamente do governo para seus empregos, aposentadoria e moradias.

Mas ativistas da oposição dizem que não há nada a perder, uma vez que o regime, já quase sem dinheiro, interrompeu os pagamentos de grande parte dos salários do serviço público.

As empresas canadenses Tanganyika, Suncor e PetroCanada também operam na Síria.

A Suncor anunciou ontem que ainda estava analisando o anúncio dos EUA e que se pronunciaria "no momento apropriado".

"Nós estamos operando muito, muito cuidadosamente, e monitorando a situação bem de perto", informou a empresa.