Título: Risco-Brasil resiste às turbulências
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 27/04/2006, Finanças, p. C12

Os mercados de câmbio e títulos da dívida brasileira têm conseguido manter baixa volatilidade mesmo em um cenário internacional de menor apetite a risco e de maiores turbulências políticas internas. Em dias como ontem dólar e risco-Brasil caíram, apesar de os juros dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos de vencimento em dez anos subirem 3 pontos básicos depois da já terem apresentando alta recorde de 9 pontos básicos anteontem. O dólar se desvalorizou 0,42%, para R$ 2,119, e o risco-Brasil fechou a 224 pontos básicos, 1,75% menor do que anteontem. No ano, os títulos do Tesouro dos EUA de prazo de dez anos subiram 71,4 pontos básicos, mas o risco-Brasil caiu 81 pontos básicos. Thais Parolin/Valor Nuno Câmara, do Dresdner: "Brasil está menos vulnerável e o contágio é menor"

"O Brasil está menos vulnerável e o contágio de turbulências externas ou políticas é bem menor", diz Nuno Câmara, economista sênior do Dresdner Kleinwort Wasserstein. Ele nota que a saída do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o desmonte de posições vendidas dos investidores estrangeiros na Bolsa de Mercadorias & Futuros, dos US$ 15 bilhões em meados de fevereiro para cerca de US$ 8 bilhões, também não provocaram "nada de realmente estressante".

Câmara lembra que a necessidade de financiamento externo do país é hoje menor e o fluxo de dólares ao país com exportações e investimentos impede uma maior desvalorização do real. Ele prevê superávit comercial de US$ 44 bilhões em 2006 e acredita que, no ápice da crise política, o dólar poderá chegar a um máximo de R$ 2,30, para fechar o ano em R$ 2,05.

Ricardo Simone Pereira, diretor do Multi Commercial Bank, lembra que os juros dos títulos americanos têm subido justamente por causa do crescimento econômico saudável nos EUA, o mesmo que tem puxado para cima os preços dos commodities, importantes itens na pauta de exportação do Brasil. "Os juros sobem nos EUA, mas a bolsa americana também está em alta", lembra.

A injeção de US$ 6,6 bilhões no mercado por meio da recompra antecipada dos títulos da dívida renegociada (os bradies) ajuda a impedir uma desvalorização maior nos preços da dívida externa brasileira e uma alta no risco-Brasil, lembra Carlos Gribel, sócio-diretor da Queluz Securities. Os investidores internacionais receberam os US$ 6,6 bilhões e reaplicaram parte do dinheiro em títulos do Brasil, compensando a saída de outros investidores.

Alguns investidores têm vendido títulos brasileiros, pois, com a queda no risco-Brasil e alta nos juros americanos, os emissores dos EUA estão pagando taxas cada vez mais próximas aos emissores do Brasil. Um banco americano paga juros de 5,60% ao ano hoje pelo prazo de dez anos. Já um papel do governo brasileiro só rende mais do que 7% se tiver vencimento final depois de 2019.

Câmara acredita que a inflação no Brasil está sob controle e aposta que, por isso, se a formação bruta de capital fixo continuar forte, a retomada do crescimento, com aumento na renda e emprego, não será um empecilho para a queda mais nos juros básicos Selic. Acredita que as taxas estarão em 13% no final deste ano.

Câmara vê como baixa a probabilidade de o Brasil não chegar ao grau de investimento - selo de investimento não-especulativo. Acredita que isso pode acontecer ainda no segundo semestre de 2007. Para ele, será a velocidade com a qual o próximo governo vai implementar as reformas consideradas fundamentais pelos investidores - como, por exemplo, "o aumento na idade para aposentadorias e o corte de benefícios" - que vai determinar a rapidez para atingir esse status.