Título: Setor avalia revisar para baixo metas de consumo
Autor: Laguna , Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 23/08/2011, Empresas, p. B7

Em meio a estoques elevados no mercado da distribuição de aços planos, um importante termômetro do mercado, e vendas aquém das expectativas do início do ano, a indústria siderúrgica do país já considera a revisão das metas traçadas para 2011.

O Instituto Aço Brasil (IABr) - entidade que representa as siderúrgicas instaladas no país - ainda não revisou oficialmente seus números, mas já começou a trabalhar na reavaliação das estimativas divulgadas em junho. Essas estimativas apontavam para o crescimento de 19,8% na produção, 18,6% nas vendas internas e de 6% no consumo aparente em comparação ao ano passado.

Os dados consolidados no primeiro semestre, todavia, mostram que as siderúrgicas estão longe de atingirem essas marcas.

Apesar de retração de 3,7 para 3,5 meses de material estocado na rede de distribuição no fim de julho, conforme dados fechados ontem pelo Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), o cenário não é nada animador para o setor. Até porque as importações de aços planos voltaram a crescer no mês passado - entraram 227 mil toneladas de produtos de aço carbono (chapa grossa, bobinas fina a quente e a frio e material zincado), ante 132 mil toneladas em junho.

"Nosso esforço, até o fim de novembro, será para levar o patamar de estoques de volta a 2,5 meses de venda", afirmou Carlos Loureiro, presidente do Inda. Tudo que a rede de distribuição quer evitar é ser pega lotada de material por uma nova crise mundial.

De janeiro a junho, a produção de aço bruto nacional subiu 8,2%, enquanto as vendas domésticas das usinas marcaram leve alta de 0,7% e o consumo aparente de produtos siderúrgicos, que inclui as importações, recuou 5,6%.

Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do IABr, diz que há um "sentimento" de que as previsões recuem, mas a ordem de grandeza da revisão ainda é discutida. O grupo técnico da entidade se debruça no momento em dados preliminares de julho e só deve emitir uma posição oficial nos próximos 15 dias. "Não temos observado o crescimento que se imaginava no mercado interno", afirma o executivo.

A combinação de excesso de oferta no exterior e estoques elevados na cadeia de distribuição tornou o ambiente de negócios mais desafiador para as vendas no mercado doméstico e internacional. Esses fatores se somam à desaceleração na atividade de alguns dos principais consumidores de aço, como a indústria automobilística.

A importação de aço, principal problema no ano passado, esteve em queda mais acentuada até junho. "O sentimento de forte demanda de março, aliado ao aumento de 10% das usinas no mercado interno, levou muita gente a fechar importações", observa Loureiro do Inda. Esse material chegou agora nos portos. A principal queixa, todavia, é sobre a expressiva entrada de produtos do exterior com forte conteúdo siderúrgico - as chamadas importações indiretas.

Marco Polo frisa que as crises fiscais nos Estados Unidos e na Europa projetam um cenário mais complicado para esses mercados. No caso, lembra que, mesmo antes do novo ciclo de turbulência, as expectativas já não eram animadoras, com previsões de que a produção siderúrgica na União Europeia e no bloco do Nafta só voltaria ao patamar do pré-crise em 2012.

Apesar disso, ele lembra que a China segue como contraponto à situação delicada das economias desenvolvidas, mantendo o aquecimento em produção e demanda.

Ontem, a World Steel Association (WSA) divulgou que a produção mundial de aço em julho cresceu 11,5% comparado a um ano atrás, para 127,5 milhões de toneladas. A produção chinesa foi além: alta de 15,5%, totalizando 59,3 milhões de toneladas. O país faz 46% do total mundial.