Título: Peças começam a se movimentar
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2010, Política, p. 2

Com o crescimento de Dilma nas pesquisas e perspectiva de vitória, aliados iniciam as conversas para um futuro governo. Ministério de Minas e Energia e o comando da Câmara e do Senado estão entre os cargos em discussão

Empolgados com a arrancada de Dilma Rousseff nas pesquisas de intenções de voto, políticos começam desde já a trabalhar com o dia seguinte da sucessão presidencial e conversam sobre ocupação de espaços, tanto no Congresso quanto no Executivo. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), antes mesmo de reeleito, está em plena campanha para presidir a Casa no ano que vem, no lugar de Michel Temer (PMDB-SP), candidato a vice-presidente na chapa de Dilma. Alguns peemedebistas afirmam, inclusive, que já existe um acordo informal com o petista Cândido Vaccarezza (SP), líder do governo, para inverter o que ocorreu na atual Legislatura, quando nos primeiros dois anos de mandato, a Câmara esteve sob o comando de Arlindo Chinaglia (PT-SP) e, depois, ficou com o PMDB. Pelo acordo, Vaccarezza seria o presidente da Câmara nos dois últimos anos e Alves nos dois primeiros.

Perguntado sobre o acordo, Henrique Eduardo Alves, um dos maiores interessados, disfarça: Não é hora de tratar desse assunto. Até porque a sucessão de Michel tem que ser discutida por todos os partidos independentemente de ser maior ou menor, governo ou oposição. O que está em jogo aqui é a instituição ao qual eu pertenço a 40 anos. Meu maior patrimônio é pertencer ao Legislativo por tanto tempo, diz ele, com ares de candidato que evita colocar todo o bloco na rua desde já.

Enquanto o líder evita comentários, outros peemedebistas asseguram que as conversas estão em curso. O imbróglio, no entanto, é o que fazer com o Senado, onde PMDB e PT lutam pela maior bancada. Se o PMDB ficar com a Presidência da Câmara, cumprindo o plano traçado agora, a intenção da cúpula peemedebista é oferecer a Presidência do Senado ao PT. Daí, o trabalho de Lula para tentar alavancar a candidatura de Fernando Pimentel (PT), ex-prefeito de Belo Horizonte, terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto no estado. Pimentel foi o primeiro para quem Lula gravou uma participação no horário eleitoral gratuito e, na viagem de campanha a Minas, o presidente fez questão de ficar o tempo todo ao lado do ex-prefeito, a ponto de chamá-lo para o seu carro.

Desgaste O interesse dos atuais deputados em oferecer o comando do Senado ao PT, no entanto, vem da constatação de que a maioria dos senadores considerados de ponta dentro do PMDB está desgastada no plano nacional Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá. Sobraria, no caso, para Edison Lobão, candidato a mais um mandato de senador pelo Maranhão. Lobão hoje acalenta o sonho de voltar ao Ministério de Minas e Energia, cargo que deixou em abril para concorrer ao Senado. Porém, os sonhos de Lobão não são compartilhados pelo PT.

Os petistas almejam ficar com o ministério ocupado por Dilma no primeiro mandato de Lula. Para isso, há no partido quem pense em indicar a atual ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, braço direito da candidata petista tanto na pasta de Minas e Energia quanto na Casa Civil. Para alguns petistas, o nome de Erenice seria a desculpa perfeita para evitar que Minas e Energia ficasse nas mãos do PMDB, uma vez que o partido de Sarney e Temer mira ainda diretorias da Petrobras e cargos nas agências reguladoras.

O deslocamento de Erenice da Casa Civil é dado como certo se Dilma vencer a eleição. Até porque a Casa Civil, dizem alguns antenados no futuro, é um cargo que Lula adoraria ver entregue a Antonio Palocci, o ex-ministro da Fazenda, que está cada vez mais próximo da candidata. Se Erenice não emplacar em Minas e Energia, avaliam os petistas, o mais provável é que fique no lugar em que hoje está Gilberto Carvalho.

Assim como Palocci vem sendo considerado pule de 10 para a Casa Civil, há quem diga que José Eduardo Cardozo, que hoje acompanha a candidata a quase todos os estados, será o nome para o Ministério da Justiça (veja quadro ao lado). Até porque, a área que comanda a Polícia Federal e cuidará ainda de programas de segurança pública é considerada estratégica demais para ficar aberta aos aliados. A ordem é manter esse cargo nas mãos do PT.

O PMDB, por sua vez, tem uma listinha de prioridades em caso de vitória da chapa Dilma-Temer. Uma delas é fincar a bandeira na área econômica, onde o máximo que o partido alcançou no governo Lula foi a vice-presidência de loterias da Caixa Econômica Federal e uma vice-presidência do Banco do Brasil. A ideia agora é jogar para pegar áreas mais estratégicas nesse campo, seja na Fazenda, seja no Planejamento, onde a intenção do PT é manter Paulo Bernardo.

Enquanto petistas e peemedebistas fazem suas apostas, o presidente Lula sempre trata de colocar todos com os pés no chão quando, ao final das reuniões, alguns começam a divagar sobre um futuro governo Dilma. Gente, vamos trabalhar. Afinal, esta eleição não está ganha. Ainda, lembra o presidente, confiante.