Título: Candidatura própria tem derrota parcial no PMDB
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 20/04/2006, Política, p. A11

A reunião entre representantes dos diretórios estaduais do PMDB e os pré-candidatos da legenda à Presidência da República, Itamar Franco e Anthony Garotinho, expôs o racha do partido em relação à candidatura própria. Contrariando expectativa dos governistas, ainda não foi dessa vez que o partido descartou definitivamente a tese. O ex-presidente e o ex-governador do Rio de Janeiro continuam na disputa, provavelmente até a convenção nacional do partido que deve acontecer na primeira quinzena de junho.

Por 13 a 11, a maioria dos diretórios votou contra a candidatura própria ao Planalto. Esse placar, no entanto, não reflete posição majoritária do PMDB, já que os 11 estados que se manifestaram a favor da tese têm, juntos, mais da metade dos 726 votos na convenção nacional, instância máxima da decisão. Entre eles, estão estados com grande densidade de pemedebistas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Goiás.

O resultado apertado permitiu que ambos os lados saíssem da reunião cantando vitória. "Há uma ampla maioria dos diretórios contra a candidatura própria, independentemente de nomes, porque ela prejudica o PMDB nos estados", disse o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL).

Os pré-candidatos deram interpretação diferente. "A vitória da candidatura própria é avassaladora", afirmou Garotinho. "Cada vez mais o desejo de ter candidato próprio se fortalece", disse Itamar. "Os estados que votaram contra a candidatura própria não têm representação na convenção", disse o presidente do PMDB de São Paulo, Orestes Quércia.

Dos 27 diretórios estaduais, 26 estavam representados. Os pemedebistas do Paraná não participaram, mas comunicaram por telefone posição favorável à candidatura própria. Tocantins não enviou representante nem se manifestou. Ficaram divididos os diretórios do Piauí e do Amazonas. Ficaram contra a disputa pela Presidência os diretórios de Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Paraíba, Roraima, Rio Grande do Norte, Pará, Sergipe, Pernambuco, Maranhão e Santa Catarina. Os demais, foram favoráveis.

O principal argumento usado na reunião pelos pemedebistas contrários ao lançamento de candidato próprio pelo PMDB é o fato de o partido ficar impedido de fazer alianças eleitorais nos estados com siglas que tenham candidatos diferentes à Presidência. A coerência entre a coligação nacional com as estaduais é exigida pela regra da verticalização.

"A maioria dos pemedebistas não quer que o partido dispute a Presidência, sobretudo quando não se tem candidaturas e sim experimentos", afirmou o deputado Geddel Vieira Lima (BA). Segundo ele, ainda haverá tentativa de antecipar a decisão, com uma pré-convenção em maio. Para isso, basta a iniciativa de um terço dos diretórios.

Itamar passou por constrangimentos da reunião. O ex-governador Newton Cardoso, seu desafeto em Minas Gerais, chegou ao Congresso, onde a reunião foi realizada, prometendo fazer ataques públicos a ele. "Vou dizer ao país quem é Itamar", afirmou. Antes da reunião, Cardoso foi contido pelo presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que pediu moderação.

Mas, durante os debates, bateu boca com o deputado federal Marcello Siqueira, aliado do ex-presidente. A discussão começou quando Cardoso anunciou que o PMDB em Minas está majoritariamente (80%) contra a candidatura de Itamar a presidente e manifestou apoio a Garotinho. Siqueira rebateu, tentou defender o ex-presidente e foi verbalmente agredido por Cardoso. "Falo por quase todos do PMDB de Minas. O senhor é capacho de Itamar", disse. Siqueira reagiu e os dois foram contidos. Itamar, que estava sentado à Mesa - junto com Temer e Garotinho -, não se manifestou. O lançamento da candidatura Itamar recebeu manifestações de apoio apenas de Quércia e do senador Pedro Simon (RS). Não foram discutidos nomes, mas representantes de quatro diretórios apoiaram Garotinho.