Título: China corteja empresas antes de cúpula com Bush
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Fonte: Valor Econômico, 20/04/2006, Internacional, p. A12

Antecipando a pressão que deve receber na reunião de hoje com George Bush, em Washington, o presidente chinês, Hu Jintao, disse ontem em visita à Boeing que a China precisará comprar 2 mil novos aviões nos próximos 15 anos. Para uma platéia de centenas de funcionários da empresa, em Seattle, ele previu um "futuro brilhante para a Boeing no mercado chinês". Um dos pontos mais espinhosos do encontro com Bush é o enorme déficit comercial americano com a China. As visitas à Boeing e à Microsoft, premiadas com grandes contratos, podem ajudar a atenuar as cobranças. Até porque não haverá sinalização da valorização no câmbio chinês pedida pelos EUA.

Hu visitou três linhas de montagem da Boeing e foi instruído sobre o projeto do jato 787, atualmente em desenvolvimento.

O presidente chinês disse que seu país e a empresa americana são um exemplo de uma potencial relação "win-win" (em que todos ganham). "A cooperação da Boeing com a China é uma exemplo vivo de uma cooperação mútua benéfica", disse ele. "Nos próximos 15 anos, a demanda por novos aviões chagará a 2 mil. Isso claramente aponta para um futuro brilhante para a nossa cooperação".

Pelos cálculos da Boeing, a China irá precisar de 2.600 aviões novos nos próximos 20 anos. O país divulgou esta semana a compra de 80 jatos 737, num negócio de mais de US$ 4 bilhões.

Essa foi apenas uma de uma série de compras que os chineses anunciaram na última semana, na medida em que as autoridades tentam diminuir a tensão criada devido ao déficit comercial dos EUA com a China.

Na terça, Hu visitou a Microsoft, também em Seattle, e encontrou-se com Bill Gates. Durante a visita, o presidente chinês disse admirar as conquistas de Gates e assegurou ao empresário que seu país está agindo de forma séria para proteger a propriedade intelectual. A pirataria é uma grande preocupação da empresa, detentora do sistema operacional Windows.

O encontro de Hu e Bush servirá para tratar de uma ampla agenda de interesse dos dois países - da criticada subvalorização da moeda chinesa, o yuan, e outras práticas comerciais consideradas injustas pelos EUA à sua agressiva busca chinesa por por petróleo e a posição de Pequim em relação aos programas nuclear do Irã e Coréia do Norte.

Ontem, Hu afirmou que seu país pretende manter estável o valor do yuan, encerrando especulações sobre possível anúncio de valorização da moeda.

A relação entre a China e a indústria militar do Irã também está na mira de Washington. A estatal chinesa Norinco foi posta numa lista negra em 2003 pelo governo Bush por ter supostamente ajudado o programa nuclear iraniano. As exportações da empresa para os EUA foram barradas. Outras cinco companhias chinesas também estão impedidas de receber contratos e assistência dos EUA, de engajamento em comércio militar com o país e de receber produtos americanas considerados sensíveis.

Na delegação que acompanha o presidente Hu estão representantes dessas empresas, que vêm fazendo forte lobby em Washington pelo fim das sanções.

Autoridades americanas dizem ser difícil encontrar um equilíbrio entre punir empresas chinesas por terem ajudado a indústria militar iraniana e, ao mesmo tempo, buscar apoio da China para as sanções internacionais contra o Irã, acusado de desenvolver um programa nuclear com fins militares.

A passagem de Hu por Seattle levou manifestantes à ruas, pró e contra o presidente. Entre os mais barulhentos estavam os defensores da liberdade de expressão na internet e pela liberdade de prisioneiros políticos, outros focos de crítica nos EUA ao regime chinês.