Título: Importação de bens de consumo cresce forte e origem não está apenas na China
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2006, Brasil, p. A2
As importações brasileiras de refrigeradores e congeladores , da Coréia do Sul e do México, quadruplicaram, de janeiro a março, quando comparadas com o primeiro trimestre de 2005: um crescimento de 311%, para um total de US$ 3,7 milhões neste começo de ano. Carol Carquejeiro/Valor Ivan Ramalho: "Temos feito acompanhamento dos preços de importação"
Foi o crescimento mais expressivo, mas nem de longe o único aumento de mais de 100% nas compras de bens de consumo importados no mercado brasileiro. O crescimento, em grande parte motivado pela baixa cotação do dólar em relação ao real, já desperta atenção das autoridades, mas a maioria, entre os 20 principais produtos importados, não é alvo de pedidos de barreiras por parte de competidores brasileiros.
"O aumento de importação vem ocorrendo num ritmo expressivo, e é de mais de 30% no caso de bens de consumo, em comparação com 14% de matérias-primas e insumos", comprova o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho. "Temos feito acompanhamento dos preços de importação e da situação internacional, até com vistas a eventuais pedidos de salvaguardas", informou ao Valor.
Em muitos casos, os importadores são os mesmos produtores no Brasil, que preferiram trazer de fora produtos antes com preços pouco competitivos. É o caso de alguns dos produtores de automóveis, cujas importações aumentaram 53%, para US$ 274 milhões. As compras de eletrodomésticos lideram a explosão de bens de consumo importados: só o aumento das compras de aparelhos de TV em cores foi de 250%, para US$ 14 milhões no primeiro trimestre, principalmente da Bélgica, da China, do México, da Coréia do Sul e do Japão.
A importação de aparelhos domésticos de ar-condicionado, vindos da China, dos Estados Unidos e da Malásia, cresceu 119%, para US$ 8 milhões. As compras de aparelhos de som, de países asiáticos e dos Estados Unidos, somaram US$ 51 milhões, um aumento de 76% em relação aos primeiros três meses do ano passado.
O aumento das compras também superou os 100% no caso das motocicletas, que somaram US$ 10 milhões, um aumento de 206%. Os fornecedores, nesse caso, foram Estados Unidos, Japão, Reino Unido e Alemanha.
Apesar da ampliação da fatia de bens de consumo no fluxo de mercadorias importadas pelo país, esses produtos ainda representam apenas 12% do total importado, cerca de um quarto dos mais de US$ 3,7 bilhões de compras em matérias-primas e bens intermediários, por exemplo.
São o suficiente, porém, para incomodar alguns setores, como o de calçados, que viram as importações de concorrentes, da China, Vietnã, Indonésia, Hong Kong e Itália aumentarem 57% no primeiro trimestre, para US$ 35 milhões. O setor de brinquedos, que já pediu ao governo a abertura de um processo de salvaguardas (barreiras) contra as importações chinesas, teve um aumento de 55% na concorrência importada, para US$ 31,8 milhões. As importações de instrumentos musicais (outro setor que pede salvaguardas contra a China) cresceram 48%, para US$ 10,4 milhões.
O caso dos brinquedos e dos instrumentos musicais é um bom exemplo do argumento levantado no Ministério do Desenvolvimento contra a crença de que barreiras contra os chineses resolverão o problema dos produtores nacionais: além dos importados da China, o país vem sendo inundado por brinquedos vindos de Hong Kong (que tem tratamento especial apesar de ser território chinês) , da Malásia e dos Estados Unidos; e os instrumentos musicais também provém do Japão, de Taiwan e dos Estados Unidos.
O setor de confecções, que tem acordo de restrição de importações com a China, viu crescer as importações em 50%, para US$ 102 milhões.
Os acordos comerciais do Brasil no Mercosul tem contribuído para o aumento das compras de bens de consumo não duráveis, como vinho (US$ 22 milhões, ou 57% a mais no trimestre) e frutas (US$ 59 milhões, ou 59% a mais no trimestre).
De menor valor, mas com crescimento extraordinário, foram notáveis também as compras de produtos cerâmicos de países asiáticos (82% a mais, para US$ 4 milhões em mercadorias da China, Tailândia, Hong Kong e Japão). E de utensílios de aço para cozinha, que somaram US$ 4,6 milhões (109% de aumento), vindos da China, Hong Kong, Índia, Taiwan, Alemanha e Itália.