Título: PSD prometerá apoio "sem retribuição" à governabilidade
Autor: Costa , Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2011, Política, p. A8

Encontro acertado na sexta-feira passada em longa conversa com a presidente da República, Dilma Rousseff, o PSD sobe hoje a rampa do Palácio do Planalto, antes mesmo de dar entrada no pedido de registro provisório do partido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que só ocorrerá amanhã. Os pessedistas reuniram-se ontem à noite em Brasília para definir a delegação que apresentará o novo partido a Dilma.

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, principal ideólogo do novo partido, chegou a Brasília ontem à noite para acertar detalhes do encontro com a cúpula do PSD. Mais do que o apoio "em exigência de recompensa", segundo os líderes da nova agremiação, os dirigentes pessedistas devem dizer a Dilma o que já foi antecipado por Kassab na reunião de sexta-feira passada.

"O PSD vai ajudar o governo sem buscar qualquer tipo de retribuição", diz o futuro secretário-geral do partido Saulo Queiróz. Apesar de todas as dificuldades jurídicas para a criação de novas legendas e das tentativas dos adversários para evitar a criação do PSD, Saulo diz que a sigla já é uma realidade na política nacional. Venceu a etapa da coleta de assinaturas e deve vencer agora a etapa para a obtenção do registro provisório.

A conversa de sexta-feira do prefeito com Dilma foi considerada positiva no PSD. No encontro, por sinal, a presidente disse ao prefeito de São Paulo que ele - Kassab - podia ter certeza de que ela - Dilma - continuaria com a faxina ética do governo sem se curvar a interesses não republicanos. A presidente falou conceitualmente, em citar nomes específicos, ou seja, que sempre que se deparasse com um caso de malfeitoria no governo agiria independentemente dos interesses partidários.

A presidente e o prefeito da maior cidade do país têm interesses em comum. A Copa do Mundo, por exemplo. Não interessa ao governo federal a imagem de que está perseguindo São Paulo e tirar a cidade da abertura da Copa. A Kassab, por outro lado, interessa a construção do estádio do Corinthians, o Itaquerão. A relação do atual governo federal, assim como do ex-presidente Luiz Inácio Lula, é mais fluente com Kassab do que com o governador do Estado Geraldo Alckmin.

A entrada do PSD no jogo congressual também pode ser positiva para Dilma e seus interesses, principalmente se o partido confirmar o que Saulo diz sobre o partido: "É quase dogmático, no partido, que nós temos que chegar com o perfil de quem não vai brigar para ter cargos, mas de ajudar quando a nossa ajuda for necessária a presidente."

Segundo Saulo, é difícil contornar o ceticismo das pessoas sobre as intenções do partido, que temem ser chamadas de ingênuas, mas o certo - diz ele - é que o PSD não quer entrar "nem mesmo no negócio das emendas parlamentares".

Como um partido novo, o PSD está a vontade para atuar livre de amarras no Congresso: a sigla não estava no pacto político-eleitoral de 2010 da presidente Dilma, o que lhe facilita apoiar o governo em meio ao processo político. A nova sigla está com 42 deputados, mas seus dirigentes acreditam que conseguem mais 10 adesões até o registro da ata de criação, e dois senadores já confirmados e outros cuja filiação está sendo negociada.

Kassab gostaria de levar ao Palácio do Planalto deputados, senadores e líderes regionais que se engajaram na criação do PSDB, mas a delegação somente seria definida na noite de ontem. "Vamos mostrar à presidente que o nosso partido está sendo criado e que temos compromisso com a governabilidade", disse o ex-deputado Índio da Costa, que na eleição do ano passado foi candidato a vice-presidente na chapa do tucano José Serra à Presidência da República. Índio, assim como Saulo, integrava o DEM, partido sucedâneo do PFL que mais perdeu congressistas com a criação do PSD.

Apesar do compromisso com a governabilidade, Índio da Costa reconhece que o PSD não estará integralmente com o governo, pois existem várias correntes dentro da nova agremiação. O mais provável, no entanto, é o apoio ao governo. Pragmático, Kassab avalia que é muito difícil governar para uma prefeitura, mesmo a da maior cidade do país, na oposição radical, como ficou sua antiga legenda, o DEM.