Título: Ministro elogia secretário-executivo demissionário
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2011, Política, p. A8

No mesmo dia em que o ministro do Turismo, Pedro Novais (PMDB), defendeu o secretário-executivo da Pasta, Frederico Silva da Costa, preso na Operação Voucher da Polícia Federal, o ministério confirmou o afastamento de Costa do cargo.

Número dois na hierarquia da Pasta, Costa pediu demissão. Horas antes de o ministério divulgar o recebimento do pedido de Costa, no entanto, o ministro disse, em depoimento em uma sessão na Câmara dos Deputados, que da Costa é uma pessoa "muito conceituada" e com bom trânsito no Congresso e no Ministério do Planejamento, características que o fizeram ser escolhido para ocupar o cargo.

"O Frederico é muito conhecido no Congresso. É um dos funcionários mais conceituados dentro do ministério. Ninguém entende mais do relacionamento com o Planejamento, que é quem disponibiliza recursos. O relacionamento dele com o Planejamento é amplo e eu precisava dele naquela função", disse Novais.

"Fred", como é conhecido, foi preso, mas posteriormente liberado da prisão. O ministro atribuiu a si a nomeação de Frederico, afastando ter sido uma indicação política do PT ou de outro partido. "Não sofri nenhuma pressão, nem partidária, nem política, nem empresarial." No entanto, disse que Frederico passou por uma varredura no Planejamento e na Casa Civil, culminando com a nomeação pela presidente Dilma Rousseff. "Qualquer pessoa que quiser entrar na administração passa por dois testes. O primeiro no Planejamento, para ver a localização do cargo; o segundo uma varredura na Casa Civil. Não o nomeei. Quem o nomeou foi a presidente da República por um pedido meu."

Questionado se sentia-se traído, decepcionado ou fazendo "papel de bobo" no ministério, ele negou. "Nem traído, nem enganado. Papel de bobo? Terei todos os defeitos, menos isso. Decepcionado? Não. Conheço as pessoas, sei como elas são e sou capaz de perdoar quando cabe perdão." Não quis, porém, responder se ainda confia em Frederico. "Essa não é uma pergunta que cabe a esta comissão. É um assunto pessoal."

Em geral, Novais negou irregularidades na Pasta e disse que, se elas ocorreram, não tiveram sua participação. "Se eu fosse sozinho atender todos os papéis que transitam no ministério não faria mais nada além disso, então por isso há necessidade de delegação."

As alegações foram semelhantes a que o ministro dos Transportes, Paulo Passos, fizera pela manhã na Câmara. Também com o objetivo de prestar esclarecimentos sobre denúncias de corrupção. "Nunca fui partícipe, nunca ouvi, nunca estive envolvido com qualquer tipo de conversa ou entendimento do qual futuramente eu pudesse de longe ter uma sombra de dúvida quanto à correção", disse Passos.

Ocorrida no dia seguinte à declaração de independência do PR em relação ao governo, Passos, filiado à legenda, disse que, na condição de ministro, deve lealdade a Dilma. "Os ministros devem lealdade, devem prestação de contas de suas condutas e atos à presidenta. Não me afasto dessa regra, não importa a qual partido o ministro pertença."

Nos dois depoimentos, o alvo da oposição foi muito mais o PT do que os partidos aos quais os ministros pertencem. "A origem de tudo não está na administração de Pedro Novais. Tem início na administração que o antecedeu. Esse grande esquema de corrupção do ministério do Turismo foi gestado pelo PT", disse o líder do DEM, ACM Neto (BA). "Essa estrutura de corrupção tem filiação e símbolo partidário. A filiação é o PT e o símbolo a estrela", completou.

Para o líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP), o mensalão é a origem dos atuais escândalos. "Esse modus operandi foi sucedido pela entrega total de nacos da administração sem critério de qualificação técnica, sem a devida observação sobre metas a serem cumpridas ou a qualidade do trabalho."