Título: Presidente da OAB convida Lula para abrir evento depois da eleição
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 19/04/2006, Política, p. A9

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, negou que a Ordem vá atuar de forma político-partidária durante o julgamento da proposta de impeachment a ser analisada pelo Conselho da Ordem no dia 8 de maio. Busato, que foi ontem ao Planalto convidar Lula para abrir um encontro internacional de advogados marcado para novembro - um mês depois das eleições presidenciais - garantiu, no entanto, que a Ordem vai continuar seu tom crítico em relação ao governo. Mas foi bem menos incisivo quando o assunto foi o impeachment de Lula. "O pior remédio num Estado democrático de direito é o impedimento do presidente", admitiu Busato. Sérgio Lima/Folha Imagem Busato e Lula: "Posso assegurar que qualquer decisão tomada pela Ordem me terá à frente em busca de sua realização"

Segundo o presidente da OAB, Lula teria dito que também não se sente confortável diante da crise política. Mas não se esquivou a criticar as CPIs que foram instaladas no Congresso para investigar denúncias de corrupção no Executivo. "O presidente Lula classificou-as de injustas, afirmando que elas abriram demais o leque de investigações", disse Busato. Lula também teria reiterado seu desconhecimento quanto ao episódio e exposto a decepção com a atitude de alguns integrantes do PT, sem declinar nomes.

Busato tentou manter o tom crítico afirmando que a OAB não vai abrir mão de criticar o Executivo. "Eu disse ao presidente que estamos diante da mais grave crise institucional desde que o advento da república". Mesmo assim, ele não quis emitir juízo de valor sobre os debates no âmbito do Conselho Federal da OAB. "Sou presidente da Ordem, qualquer opinião que emitir poderá influenciar a opinião dos meus pares. Só posso assegurar que, qualquer decisão tomada, me terá à frente em busca de sua realização", declarou.

Ele também não quis comentar os ataques feitos por alguns governistas, incluindo o ministro da Coordenação Política, Tarso Genro, acusando a oposição de "golpismo" por pensar em impeachment de um presidente com 60% de aprovação da população. "O Conselho da OAB é composto por 81 juristas renomados e experientes, além dos membros vitalícios e honorários. Não analisamos a questão sob o prisma político". Busato também rebateu os temores de que uma discussão desta natureza, a seis meses das eleições, possa afundar o país em uma crise institucional como a deflagrada na Venezuela. "Nenhum de nós deseja isso", assegurou o presidente da OAB.

Testemunha do encontro entre Busato e Lula, o ministro da Coordenação Política, Tarso Genro, espera que a iniciativa abra um novo canal de diálogo entre o Executivo e a OAB. "A Ordem sempre teve um papel importante na história política brasileira. Por isso, sem abrir mão de sua postura crítica, queremos manter aberto esse relacionamento institucional entre as partes", assegurou o ministro.

A tentativa de Genro em desanuviar as relações entre o Planalto e a OAB começou logo após a posse do novo ministro da Coordenação Política. A primeira visita institucional do ministro foi à Ordem dos Advogados, um dia após a sua posse. Na ocasião, o petista lembrou que as principais conquistas recentes da democracia brasileira tiveram a participação decisiva da OAB. E que a intenção do governo jamais seria impedir que os advogados tivessem senso crítico.

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, declarou ontem ser contrário ao impeachment de Lula: "Acho que o processo político é a eleição e estamos a meses do processo eleitoral. O povo deve decidir nas urnas. Eu confio na mudança e quero ser seu instrumento"