Título: Estagnação ameaça EUA, diz Nobel
Autor: Lamucci , Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2011, Internacional, p. A11
O economista Edward Prescott está pessimista quanto às perspectivas econômicas dos Estados Unidos. Para o ganhador do Prêmio Nobel de 2004, o país pode enfrentar um longo período de estagnação, correndo o risco de repetir a experiência do Japão nos anos 90, da Itália nos últimos 15 anos ou do Brasil dos anos 80 e começo dos anos 90. Segundo Prescott, o problema é que "políticas anticrescimento" dominam hoje o país, atrapalhando a recuperação da economia. Para estimular a atividade, ele defende cortes de gastos públicos, que permitam a redução de impostos."Gastar é taxar, como disse Friedman, e ele estava certo", afirmou ontem Prescott, em entrevista ao Valor, referindo-se ao Nobel de Economia de 1976, Milton Friedman. Para ele, se o governo se comprometer com um corte crível dos gastos públicos, a economia americana pode ter um boom. Prescott veio ao Brasil a convite do Principal Financial Group. É o convidado de maior destaque do evento "Economia global: riscos e oportunidades".
Professor da Universidade do Estado do Arizona, ele classificou como "falsa ciência" a ideia de que só restou ao país a política fiscal para estimular a atividade, já que os consumidores estão endividados, as empresas não investem e a política monetária já está no limite, com os juros próximos de zero. "É como dizer que o mundo é plano", afirmou ele, para quem planos de estímulo fiscal tendem a ter o efeito de deprimir a atividade econômica.
A percepção de que os impostos serão mais altos no futuro leva as pessoas a trabalhar e produzir menos no presente, de acordo com Prescott, que completou: "Gastar é taxar, e taxar é deprimir [a atividade econômica]". Economistas como Paulo Krugman, Nobel em 2008, defendem a expansão de gastos como forma de sustentar a economia neste momento, hipótese rechaçada por Prescott.
E quais são exatamente as políticas anticrescimento que ameaçam jogar os EUA num longo período de estagnação? Segundo Prescott, são as tentativas de preservar a ordem estabelecida, que acabam por dificultar a expansão da economia. Um exemplo seria o esforço do Conselho Nacional de Relações do Trabalho (NLRB, na sigla em inglês) em tentar impedir a Boeing de fabricar um determinado avião na Carolina do Sul - a companhia teria transferido a produção para lá com o objetivo de escapar das greves promovidas pelos trabalhadores numa fábrica do Estado de Washington. "É a nossa maior exportadora", reclama Prescott, incomodado com a iniciativa.
"O que nós precisamos é de mais descentralização, dar mais poder aos Estados", afirmou ele, criticando a tendência centralizadora do governo do presidente Barack Obama. Para Prescott, o país também deveria dar mais espaço à competição. "Abertura é ótimo", destacou Prescott, dizendo que o país se beneficiou quando houve a concorrência com a indústria automobilística japonesa, que resultou em carros melhores para os consumidores.
Prescott não vê com bons olhos a iniciativa do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de ter se comprometido com a política de juros próximos de zero até 2013. "Eles não deveriam ter se comprometido com isso por tanto tempo. A situação pode mudar", afirmou ele, que preferia um compromisso com uma meta de inflação de 2%, e não com o nível dos juros. Para Prescott, também não há necessidade de uma nova rodada de afrouxamento quantitativo (pelo qual o Fed compra títulos públicos e privados).
O economista se disse otimista com o Brasil, especialmente pelo fato de o país estar "mais integrado com as multinacionais e com o resto do mundo". Segundo ele, as perspectivas favoráveis de crescimento e os juros elevados tornam o país atraente para os investidores estrangeiros.
Para Prescott, os juros no Brasil vão cair à medida que houver mais confiança de que o país continuará no caminho atual. "Se essa tendência se mantiver, não vejo por que as taxas não vão cair no futuro", disse ele. Questionado sobre a valorização excessiva do real e as tentativas do governo de evitar uma apreciação exagerada da moeda, Prescott afirmou que ter uma meta para o câmbio não é uma boa política.
Ao falar da crise da Europa, o economista disse acreditar que o euro sobreviverá. "É algo útil e valioso", afirmou ele, para quem os países do continente precisam enfrentar a questão dos impostos, hoje muito elevados, o que afeta a capacidade de competição. "E a Grécia, por exemplo, precisa de fato se tornar mais responsável fiscalmente", disse Prescott, para quem uma reestruturação ordenada da dívida de alguns países pode ser algo desejável.