Título: IOF no câmbio eleva interesse por títulos em reais
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2011, Finanças, p. C1

Várias empresas brasileiras que relutavam em acessar o mercado internacional em função do risco de exposição ao dólar podem encontrar agora uma nova fonte de captação com prazos longos. A oportunidade para emitir títulos em reais no exterior aumentou bastante e já se mostra como uma tendência, especialmente depois das regras mais duras para investidores internacionais aplicarem recursos no Brasil, o que afastou parte dos estrangeiros.

No primeiro semestre, diversas operações de empresas brasileiras denominadas em reais foram a mercado. "Este não é um mercado tão líquido quanto o em dólar, mas os fundos estrangeiros de moeda local têm recebido muitos aportes e precisam direcionar esses recursos", disse Eduardo Nascimento, diretor da BB Securities em Londres. "É uma categoria que está crescendo", completou.

As medidas do governo de aumento do IOF para aplicações em títulos locais, além da maior regulação no mercado de câmbio com taxação dos derivativos também mexeu na curva de juros no exterior, que ficou mais favorável do que no mercado doméstico.

"O governo implementou o IOF e quer controlar a entrada de recursos para evitar uma maior valorização do real. Todo instrumento que pague juros no exterior acabou sendo favorecido. Há uma arbitragem positiva", explica Pedro Bianchi, diretor do Bank of America Merrill Lynch.

Mesmo com o imposto para trazer os recursos vindos de uma captação externa, está mais favorável para as companhias brasileiras emitirem no exterior, pagando taxas ao redor do custo do CDI sem prêmio, do que fazer um empréstimo em moeda local, diz Eduardo Muller Borges, diretor de "credit market" do Santander.

A referência são os papéis do governo brasileiro em reais no mercado externo, cujas taxas oscilam entre 7,4%, para vencimento em 2016, e 8,85%, no papel mais longo, de 2028.

Os bancos de investimento estão otimistas com o segundo semestre. O principal risco para as captações brasileiras no exterior é se o crescimento brasileiro, ou mesmo o chinês, apresentar um recuo. "Se o Brasil crescer entre 4% e 5%, vai precisar de financiamento externo e o mundo está liquido o suficiente", diz Bianchi.

Em setembro os investidores voltam das férias de verão no Hemisfério Norte e certamente terão que diversificar suas aplicações, para conseguir retornos nos últimos quatro meses do ano. Mas as chamadas janelas, períodos em que os investidores saem às compras, devem ser mais curtas e com uma fila maior que a usual, dada a volatilidade elevada. As operações também devem ser menores, mais próximas do patamar de US$ 500 milhões. (FT)