Título: Empresas fazem fila para emitir dívida no exterior em setembro
Autor: Travaglini , Fernando
Fonte: Valor Econômico, 18/08/2011, Finanças, p. C1
Mesmo com as turbulências das últimas duas semanas, provocadas pelo rebaixamento da nota americana, as empresas e bancos brasileiros começam a correr para preparar emissões de títulos no exterior, dada a manutenção da liquidez para papéis de países emergentes. Os bancos de investimentos estão com diversas operações mandatadas, esperando apenas que uma janela se abra no próximo mês. Há espaço, inclusive, para lançamentos em real, especialmente depois do aperto da regulação cambial, que afastou o estrangeiro dos títulos e bolsas locais.As primeiras operações, dada a volatilidade do mercado e a alta dos preços no mercado secundário, devem ser de empresas públicas, ou mesmo da República, que costumam abrir o caminho para as empresas de primeira linha.
A Eletrobras está com uma operação de 10 anos engatilhada, sob a liderança do Santander e do Credit Suisse. Petrobras e BNDES são outras estatais que têm planos para acessar o mercado no segundo semestre.
Os grandes bancos brasileiros também estão com apetite. O Itaú BBA fechou na semana passada, no auge da turbulência, um empréstimo sindicalizado de US$ 630 milhões com 19 bancos, a maior parte deles asiáticos. Já as companhias menores devem colocar papéis apenas se as condições estiverem realmente favoráveis.
Há ainda empresas com apetite para dívida como alternativa ao fechamento do mercado de ações local. Ou aquelas que querem apenas ficar preparadas para oportunidades de aquisição, que sempre surgem em momentos de crise.
Segundo Pedro Bianchi, diretor do Bank of America Merrill Lynch, o mercado de dívida para países emergentes no exterior está bastante favorável. "À exceção da última semana, todas as 22 semanas anteriores tiveram fluxo positivo para os fundos de renda fixa de emergentes", diz. Segundo ele, o que antes era apenas uma oportunidade para ampliar os retornos, hoje se tornou uma necessidade de diversificação para os investidores.
O mês de setembro é historicamente positivo. No ano passado, foram captados US$ 11,7 bilhões, de um total de US$ 51,3 bilhões (excluindo operações do Tesouro Nacional). A data mágica para a reabertura dos mercados após as férias de verão no Hemisfério Norte é o "Labor Day" americano, em 5 de setembro. "Esperamos que o mercado esteja bastante ativo. Vai ter um movimento de emissões brasileiras para aproveitar a baixa taxa de juro", diz Bianchi. Ele afirma, no entanto, que essa não será uma janela, mas uma tendência.
"Não é preciso que mudem as condições no mercado internacional. Apenas que a volatilidade diminua um pouco, pois as condições já são favoráveis, com taxas de juros baixas no exterior, boa performance do real durante o momento de crise e alta taxa de juros da economia brasileira", diz ele.
Para Alexandre Aoude, diretor do Itaú BBA, há uma janela para empresas de primeira linha captarem com prazos de 30 anos. Outra opção é fazer operações em reais. "Estamos com um "pipeline" (fila) gigantesco, umas operações com maior probabilidade de sair, outras com menos chance", diz.
Sandy Severino, responsável pela área de captações externas do BTG Pactual, se diz otimista, mas acredita que há uma chance de os prêmios ficarem um pouco mais altos. Nas últimas semanas, os juros (yield) dos títulos de empresas brasileiras negociados no exterior subiram entre 50 até 100 pontos básicos - no caso de companhias com nível de risco mais elevado. O que houve foi um aumento do prêmio sobre o título americano, relação que serve de referência para novas operações.
Além disso, explica Marcelo Delmar, chefe de captações para a América Latina do BNP Paribas, os prêmios para novos lançamentos também subiu ("new issue premium"). No mercado americano, por exemplo, empresas com nível de risco semelhante às brasileiras (BBB) pagam um prêmio cerca de 15 a 25 pontos básicos acima do preço dos papéis negociados no secundário. "Os investidores têm dinheiro, mas estão colocando os recursos seletivamente", completa Luis Berlfein, chefe de originação e distribuição local do BNP Paribas.
As companhias brasileiras, no entanto, estão pouco alavancadas e sem muitos compromissos vencendo este ano. A posição é confortável para só lançar bônus se as taxas estiverem em patamares semelhantes aos do primeiro semestre. Eduardo Muller Borges, diretor de "credit market" do Santander, não acredita que os emissores com grau de investimento aceitarão pagar taxas mais altas. "Para essas empresas, cinco pontos básicos fazem muito diferença e elas estão muito capitalizadas, pois vêm captando com frequência".
Para Renato Ejnismam, diretor do BBI, banco de investimento do Bradesco, a sinalização do governo americano de que vai manter a taxa de juros no patamar próxima de zero até 2013 criou um ambiente possível para novas captações. "O mercado vai começar mais cauteloso, mais aberto para emissões de melhor risco e exigindo prêmio para emissões de high yield (alto risco)", diz.