Título: Troca no BNDES reacende disputa com Ministério do Desenvolvimento
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2006, Brasil, p. A2
O BNDES está vivendo novamente um conflito de poder no governo Lula. Sob o comando de Guido Mantega, o banco se viu livre do confronto explícito de seu então presidente, Carlos Lessa, com o ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, além de enfrentamentos constantes com o Banco Central e o Tesouro. Com a saída de Mantega, que conseguiu empossar na presidência do banco o seu vice-presidente, Demian Fiocca, abriu-se um novo conflito entre o Ministério de Desenvolvimento e o BNDES. Só que dessa vez, há um Mantega fortalecido como ministro da Fazenda e seu indicado Fiocca de um lado, e Furlan do outro. Ruy Baron/Valor Mantega, Furlan e Fiocca, na posse deste como presidente do BNDES no dia último dia 5, no Mdic, em Brasília
A rápida substituição de Mantega por Fiocca, confirmada em nomeação relâmpago publicada no Diário Oficial da União (DOU), teria deixado o ministro do Desenvolvimento aborrecido. Furlan, presidente do conselho de administração do BNDES, não foi consultado para essa nomeação e se queixou ao presidente da República, como apurou o Valor.
O presidente Lula teria aconselhado Fiocca a ouvir o ministro Furlan na remontagem da diretoria do banco. Hoje, existem três vagas na direção do BNDES: a vice-presidência, a diretoria de infra-estrutura e de insumos básicos, que estavam sendo acumuladas por Fiocca, e a diretoria financeira, antes tocada por Carlos Kawall, hoje secretário do Tesouro.
Segundo fontes ouvidas pelo Valor, Furlan já teria proposto a Fiocca o nome de Armando Mariante, diretor da área de indústria do BNDES e ligado ao ministro, para ocupar a vice-presidência do banco. Mas a sugestão parece não ter contado ainda com o sinal verde de Fiocca. Outro nome da lista do Desenvolvimento é o de Carlos Gastaldoni, atual superintendente da área de indústria e subordinado a Mariante. Gastaldoni, funcionário de carreira do banco, trabalhou com Furlan em Brasília.
Na cota de Fiocca, além de nomes internos se destaca o de Rogério Studart, economista da UFRJ que hoje ocupa no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) a diretoria Brasil. Studart foi indicado para a diretoria do BID pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Segundo interlocutores próximos do banco, ele poderá ocupar a diretoria financeira do BNDES. O tema de sua tese de doutorado na University College (de Londres) foi o financiamento do investimento.
A aparente queda-de-braço entre Furlan e Fiocca estaria reduzindo o ritmo de funcionamento da instituição, que nesse processo sofre perda de produtividade. E os funcionários estão cansados de tantas mudanças. Fiocca é o terceiro presidente do BNDES em quatro anos de governo Lula. Nesse quesito, Lula só perde para os oito anos da administração FHC, que fez sete presidentes do banco no período: Edmar Bacha, Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Resende, José Pio Borges, Andrea Calabi, Francisco Gros e Eleazar de Carvalho Filho.
A interpretação corrente para a decisão de Mantega de empossar Fiocca no BNDES rapidamente, repete a manobra de Gros, que só aceitou substituir Philippe Reichstul na presidência da Petrobras se pudesse indicar seu vice Eleazar de Carvalho para sucedê-lo no banco. Essa condição também foi colocada por Mantega a Lula quando recebeu o convite para à Fazenda após a saída de Antonio Palocci.