Título: Para Wagner, Dilma ajustou conduta
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 24/08/2011, Política, p. A8

Na esteira das denúncias que dão conta de supostas irregularidades cometidas pelo ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), PT e PP se articulam para dar respaldo à sua gestão e contornar rusgas entre as diferentes alas do partido. Ontem, a bancada do PP se reuniu e acertou a divulgação de uma carta de apoio ao ministro. Em São Paulo, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que tem no PP seu principal aliado no Estado, advertiu que o combate à corrupção no Brasil não deve se tornar agenda prioritária do governo e que a presidente, Dilma Rousseff, fez um "ajuste de conduta" depois dos entreveros com o PR à época da crise na Pasta dos Transportes.

"Na vida, você faz uma ação, avalia o resultado e faz ajustes de conduta. O problema com o PR foi na forma, não no conteúdo, porque Dilma não chamou o partido para conversar sobre o que faria", observou o governador, questionado sobre as ações de Dilma ante às sucessivas denúncias. Sem se referir diretamente ao caso de Negromonte, Wagner, que participou de um almoço com empresários em São Paulo, disse que o governo não pode ficar à mercê do denuncismo nem fazer do combate à corrupção bandeira de governo. "Seria um desserviço ao Brasil. Não estamos em um patamar que assuste, no mundo todo há esse problema".

Reportagem publicada pela revista "Veja" acusou o ministro Mário Negromonte de oferecer R$ 30 mil mensais a deputados do PP para que ficassem a seu lado na disputa interna da sigla. Em entrevista a uma rádio de Salvador, Negromonte atribuiu as denúncias à disputa interna no PP. Na semana passada, a maioria dos 41 deputados federais da legenda assinou um requerimento que destituiu da liderança da bancada Nelson Meurer (PR) e nomeou em seu lugar o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), aliado do ex-ministro Márcio Fortes, hoje no cargo de cargo de Autoridade Pública Olímpica. Meurer é ligado a Negromonte que, por sua vez, teve sua indicação ao Ministério avalizada por Wagner.

Ao governador, em nada interessa o desgaste de Negromonte. O secretário-executivo do Ministério das Cidades, Roberto Muniz, é suplente do senador petista Walter Pinheiro. Na Bahia, o PP comanda 60 dos 417 municípios, inclusive a capital, Salvador, onde Wagner espera contar com o apoio do PP para eleger o deputado federal Nelson Pellegrino (PT) à prefeitura, em 2012.

Para 2014, Wagner vislumbra uma candidatura ao Senado e acredita que Dilma irá à reeleição, ainda que ele não descarte a volta de Lula ao Planalto. "Até por isso, não vejo como haver rompimento na base governista, porque se o cara se arreta com a Dilma, o outro projeto político em que pode estar é o de Lula. Agora, se nenhum dos dois quiser concorrer, eu estou na fila", disse.