Título: Bush enfrenta desgaste político até com aliados
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Fonte: Valor Econômico, 10/04/2006, Internacional, p. A13

O presidente dos EUA, George W. Bush, e seu vice, Dick Cheney, têm de prestar esclarecimentos públicos sobre seus envolvimentos com o vazamento de documentos secretos e até mesmo no vazamento da identidade de uma agente da CIA - que é crime no país -, defendeu ontem um dos mais importantes senadores republicanos, Arlen Specter, presidente do comitê judiciário do Senado.

A declaração de Specter mostra a fragilidade política do presidente, acossado pelos baixos índices de popularidade e pela degradação da situação no Iraque, apesar da melhora da situação do emprego, um dos pontos-chaves da política econômica do presidente (ver texto abaixo).

"Temos de chegar ao fundo dessa questão, para que ela possa ser analisada pela população", disse Arlen Specter. "O presidente dos EUA deve uma explicação sobre o que exatamente ele fez." Specter reconheceu que Bush teria autoridade para divulgar documentos secretos, mas ressaltou que "não é assim [vazando informação] que as coisas são feitas neste país".

Até há pouco, a figura do presidente vinha sendo poupada do escândalo, mas I. Lewis Libby, ex-assessor de Cheney, disse perante uma corte federal ter recebido autorização de Bush, por intermédio do vice-presidente, para vazar informações de um documento secreto da CIA com a conclusões detalhadas confirmando a existência ou tentativa de compra de armas de destruição em massa pelo Iraque. O documento serviria para rebater os argumentos dos opositores da invasão do Iraque.

Até agora, nem Bush nem Cheney estão diretamente envolvidos na revelação da identidade de Valerie Plame, agente secreta da CIA, cujo nome veio a público em 2003 nos jornais. O imbróglio envolvendo Plame é ainda mais complicado. Ela é mulher de um diplomata enviado a Níger em busca de provas de que o país estaria vendendo material nuclear para o Iraque - provas que ele não achou. Suspeita-se que altas autoridades teriam feito a identidade de Plame chegar a jornalistas selecionados, como forma de desacreditar o relatório do marido dela.

Alguns analistas apontam até a possibilidade de que a comprovação de um envolvimento mais profundo de Bush no escândalo de vazamento da identidade de Plame possa servir como base para um pedido de impeachment.

O assessor de Cheney, Libby, será julgado por perjúrio e obstrução da Justiça, acusado de mentir durante as investigações sobre o vazamento da identidade da agente da CIA.

Além de enfrentar o desgaste com o caso, o presidente terá ainda de lidar com a divulgação de um relatório interno da Embaixada dos EUA em Bagdá analisando a situação no país. Segundo os próprios americanos, das 18 Províncias do Iraque, 1 está em situação "crítica" e 6 em "muito séria". Como uma das conclusões mais importantes, ele alerta sobre a possibilidade de uma guerra civil generalizada.