Título: Argentina deve voltar a exportar carne
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 10/04/2006, Agronegócios, p. B11

O acordo fechado no fim da semana passada na Argentina para congelar o preço de alguns cortes de carne bovina abre caminho para que o país retome as exportações do produto, mas os embarques ainda serão menores do que no ano passado.

Em 2005, a Argentina exportou a cifra recorde de 700 mil toneladas e espera-se que neste ano o volume caia para 500 mil, segundo estimativa do diretor do Departamento de Estudos Econômicos da Sociedade Rural Argentina, Ernesto Ambrossetti. "Uma maior abertura para as exportações dependerá de que como evoluam os preços no mercado interno", disse ele.

O acordo assinado quinta-feira entre o governo e a cadeia de produção e comercialização de carne determina que as exportações serão retomadas gradualmente no segundo trimestre, "uma vez normalizado o abastecimento e, consequentemente, o preço".

Voltarão a ser realizados embarques de carne resfriada, congelada e termoprocessada, além dos cortes de maior valor (traseiros). As vendas estarão limitadas a uma quota de 50% do que foi exportado por cada empresa no mesmo período do ano passado. Posteriormente, existe o compromisso oficial de negociar uma quota para a exportações de cortes dianteiros, que não poderão exceder 30% do que foi embarcado em 2005.

Com a assinatura do pacto, produtores disseram esperar que as vendas externas do produto, que foram suspensas no início de março, possam ser retomadas logo. Uma cláusula no acordo prevê que a liberação das exportações estará condicionada à manutenção no mercado interno dos preços máximos para cortes de consumo popular.

Foram incluídos no acordo 11 cortes de carne bovina, cujos preços retrocederão aos valores de novembro e terão de ficar estáveis até o fim do ano. Espera-se que os preços ao consumidor tenham uma redução de até 25%.

No ano passado, as exportações de carne renderam quase US$ 1,4 bilhão ao país, 32% mais do que em 2004. O crescimento das exportações somado ao aumento da demanda pelo produto no mercado interno graças à melhora da situação econômica da população provocaram aumentos de preços.

A retomada dos embarques pode ter impacto nas vendas externas brasileiras, mas de forma marginal, avalia o diretor da unidade de carnes da Coimex, Jerry O'Callaghan. A Argentina, assim como o Brasil, tem na Rússia, Chile e Argélia importantes mercados. Voltando a exportar, a tendência é que passe a atender esses países. Hoje, a carne brasileira sofre embargo parcial da Rússia e total do Chile. Ele observa, porém, que antes de suspender as exportações de carne bovina por 180 dias, numa tentativa de conter a inflação, a Argentina não estava embarcando grandes volumes do produto.

Para se ter uma idéia, entre janeiro e fevereiro, o país exportou um total de 46.649 toneladas de carnes frescas, mais 5.352 dentro da Cota Hilton de cortes nobres. O Brasil, no mesmo período, exportou os volumes somados só para a Rússia. "Os fundamentos do mercado continuam iguais", comenta. (Colaborou Alda do Amaral Rocha, de São Paulo)