Título: Oferta de vagas e remuneração têm comportamento heterogêneo no país
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2006, Brasil, p. A3

O aumento dos salários dos novos empregados, entretanto, não ocorre de forma homogênea no Brasil. Na região Sul, em fevereiro, o rendimento médio dos contratados ficou somente 0,3% maior do que em igual mês do ano passado. Por outro lado, o salário dos demitidos cresceu 5,1%. Na região Nordeste, o aumento de rendimento dos contratados foi 3,3%, percentual igual ao apurado no Sudeste e no Centro-Oeste. No entanto, o salário dos desligados apresentou uma variação positiva bem maior, de 6,4%. Magdalena Gutierrez/Valor Sergio Vale, economista da MB Associados: produtividade distinta

De acordo com o economista Sérgio Vale, da MB Associados, que realizou os cálculos deflacionando os números pelo IPCA, isso é reflexo da alta rotatividade do mercado de trabalho e também da diferença de qualificação dos trabalhadores e da produtividade nas diferentes regiões do país. No Sudeste, a diferença entre os salários dos admitidos e dos demitidos é positiva em 0,4%, ou seja, houve ganho relativo de salário. No Nordeste, a comparação entre fevereiro de 2006 e mesmo mês de 2005 revela uma queda relativa de 2,9%.

"Como salários mais elevados indicam, entre outras coisas, produtividade maior, os números mostram também que o Sudeste se apresenta como uma região com produtividade maior que o Sul e o Nordeste", afirma. No Sul do país, há ainda o agravante da crise agrícola do ano passado que traz reflexos negativos ao mercado de trabalho. A perda relativa de salários chega a 4,3%, segundo Vale. Enquanto o salário dos admitidos cresceu 0,4%, o dos trabalhadores que saíram do mercado avançou 5,1%. "A recessão do setor agrícola prejudicou a economia, o que refletiu em salários menores", diz.

Vale ressalta ainda que, apesar de toda a pujança pela qual tem passado o Nordeste - com aumento do emprego e da renda estimulados pelo reajuste do salário mínimo e pelas transferências de renda dos programas federais -, a produtividade da região ainda é bem menor do que a do Sudeste, por exemplo. Para Fábio Romão, da LCA Consultores, é natural que a região Sudeste apresente dados melhores, já que, "o crescimento do emprego teve início no final de 2003, com o impulso exportador da indústria. E São Paulo, um Estado muito industrializado, encabeçou esse movimento".

As diferenças salariais entre regiões também podem ser explicadas pelo fato de que o Sudeste contrata mais pessoas com qualificação maior, enquanto o oposto ocorre no Nordeste. A quantidade de pessoas contratadas nessa região em fevereiro deste ano que não chegou a concluir a oitava série cresceu 9,8%. Já o número de empregados nesse mês com o superior completo caiu 1,4% - sempre na comparação com fevereiro de 2005. No Sudeste, a admissão de graduados cresceu 15,7% e a daqueles que não chegaram a concluir o primeiro grau subiu 3,7%.

Agrava a situação a perda de pessoas com boa qualificação vivida pelo Nordeste. Entre 1997 e 2004, 57 mil trabalhadores qualificados deixaram a região. Já entre 2000 e 2004, o fluxo de migração do Sudeste para o Nordeste subiu 19% e o fluxo entre outros Estados ficou estável. "E são as pessoas com baixa qualificação que estão retornando a seus Estados de origem", completa Vale. (RS)