Título: Emprego novo tem mais qualidade e paga salário maior
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 18/04/2006, Brasil, p. A3
Em média, um trabalhador brasileiro que conseguiu emprego com carteira assinada em fevereiro deste ano foi contratado por um salário de R$ 583, valor 4,1% superior ao dos que conseguiram um trabalho no mesmo mês de 2005, já descontada a inflação. No ano passado, nessa mesma comparação, o salário médio dos novos admitidos no mercado cresceu bem menos: 1,7% em relação a 2004, segundo dados da MB Associados.
Além do saldo entre vagas abertas e fechadas ter sido recorde em fevereiro - 176,6 mil em 2006, um aumento de 140% em relação ao mesmo mês do ano passado -, a qualidade dos novos empregos também é melhor. A indústria de transformação, setor que, tradicionalmente, paga os salários mais altos, abriu 23,5 mil postos em fevereiro. No bimestre, o número beira os 43 mil. Já em 2005, em fevereiro, esse setor teve um saldo entre demissões e contratações de apenas 810 vagas e, no bimestre, o saldo foi de 33,6 mil.
Para Marcelo de Ávila, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), esses números sinalizam uma recuperação da indústria e a continuidade da melhora do mercado de trabalho em 2006.
Outra notícia positiva diz respeito à diferença de salários de quem é contratado e de quem é demitido. Há dez anos, por exemplo, o salário dos admitidos equivalia a 84% do rendimento dos desligados. Em 2005, esse percentual foi de 89%. Fábio Romão,
É o caso das instituições financeiras. Nos dois primeiros meses deste ano, o saldo de vagas nesse ramo de atividade chegou a 4,5 mil. Em igual período de 2005, a quantidade de novos empregos formais foi quatro vezes menor: 1,1 mil postos.
Estruturalmente, o rendimento de quem acaba de arrumar um emprego é menor do que o daqueles que estão deixando o mercado. Isso acontece porque um profissional que está há mais tempo empregado já passou por aumentos salariais, como os dissídios da categoria. E, ao mesmo tempo, para quem é admitido este pode ser o primeiro emprego ou então um novo trabalho depois de muito tempo desocupado, o que leva os trabalhadores a aceitarem salários menores. "Nos últimos anos, no entanto, a tendência tem sido de redução do espaço entre os salários", comenta Romão.
A análise das séries do salário médio desde 1996 até agora também indica que o rendimento dos contratados é bem mais volátil do que o dos demitidos. Em tempos de pouco crescimento, como em 2002, quando o PIB cresceu apenas 1,9% , o salário de admissão despencou 21% e o dos demitidos sofreu uma redução de 17%.
Nesses períodos, mais pessoas procuram emprego para ajudar na renda familiar. Com um contingente maior de pessoas em busca de trabalho, a pressão por aumento de salário é menor, ao mesmo tempo em que a pressão inflacionária acaba sendo maior, o que potencializa a corrosão dos salários. Há ainda o alto custo das demissões, que faz com que os empresários tenham mais cautela na hora de dispensar funcionários.
Para 2006, o economista da LCA espera que, pela terceira vez seguida, o salário dos novos contratados com carteira assinada apresente crescimento. Em 2004, esse rendimento ficou 3,5% maior do que em 2003, quando cedeu 0,3%. Já no ano passado, os salários médios avançaram 4,6%.