Título: PSD assume governismo para virar opção de partido
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2011, Política, p. A8

A crise no Ministério dos Transportes, e o consequente aumento da tensão entre o governo e o PR, abriu no PSD a expectativa de ser o mais novo fiel - e preferencial - aliado da presidente Dilma Rousseff na categoria dos partidos médios da base. Com mais de 40 deputados federais, e podendo ultrapassar 50 parlamentares, a legenda avalia que até 2014 pode construir com o Palácio do Planalto uma relação de fidelidade e disciplina dentro do Congresso.Mas, ao contrário dos seus "concorrentes" da base, caso do PR e seus 41 deputados, do PP e seus 45, e do PSB com os 34, o PSD não planeja, por ora, que sua postura nas votações de interesse do governo seja recompensada com algumas das Pastas que essas siglas detêm na Esplanada. Quer, sim, o apoio e empenho do governo, até o fim da atual legislatura, para alterar a legislação eleitoral de modo que seja possível uma redistribuição do tempo de televisão na eleição de 2014.

O precedente para isso ocorreria já no próximo ano, quando o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), deverá incluir o PSD na distribuição das comissões temáticas, de acordo com o tamanho de sua bancada. Assim, estuda considerar como critério o tamanho da bancada formada após as eleições, e não antes dela, conforme prevê o regimento.

Está em curso uma mudança de comportamento do PSD, que em um primeiro momento assumiu postura "independente". "Torcemos para que o governo Dilma dê certo, mas isso não significa atrelamento ou que nos sintamos em sua base de apoio", disse o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, no lançamento do seu manifesto, em abril. Agora, às vésperas do registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é diferente. O partido não só quer ser governo em Brasília, como também recrutar governistas país afora.

O que motiva essa mudança é a constatação de que o tempo de televisão em 2014 é considerado fundamental para o partido se fincar de vez no país, muito mais do que em 2012, em que a maioria das cidades sequer tem acesso a essa campanha. E também a avaliação de que, sem estar de corpo e alma na base, obter esse tempo de televisão é praticamente impossível.

A estratégia começa já nos próximos dias. O partido entregará até sexta-feira seu registro nos tribunais em 14 Estados. Na semana que vem, serão mais oito, totalizando sua presença em 25 dos 27 Estados, firmando-se como um partido nacional. Para dar tempo, está sendo feita uma rechecagem das assinaturas diante das denúncias de fraude na coleta dos filiados, em apuração pelo Ministério Público.

A partir daí, em agosto, será feita uma ofensiva com prefeitos e vereadores desses 25 diretórios. A preferência é que eles sejam oposição ao governo local; estejam insatisfeitos onde estão, seja por conflitos internos ou pela escassez de recursos que a situação lhes confere; e aceitem ingressar na base de apoio ao governo federal.

O modelo ideal vislumbrado é o do Maranhão, onde o PSD virou base da governadora e da presidente. Ali, o acordo entre Gilberto Kassab, idealizador do PSD, e a governadora Roseana Sarney (PMDB) foi finalizado na semana passada. Ela lhe cedeu quatro secretarias estaduais (Fazenda, Infraestrutura, Agricultura e Educação), quatro deputados estaduais e uma federal, Nice Lobão, que presidirá o PSD local. Além disso, 60 dos 82 prefeitos que são oposição a Roseana devem migrar para o PSD, reduzindo seus opositores no Estado a quase zero. Com a operação, ganha a governadora, que vê diminuído o número de opositores; e ganha o PSD, que já nasce com mais de 25% das 217 prefeituras.

Movimento semelhante ocorre no Ceará, onde o PSD esvazia o PSDB, que faz oposição ao governador Cid Gomes (PSB) e também a Dilma. Dos 54 prefeitos tucanos, a expectativa é que pelo menos 30 deixem a sigla rumo ao novo partido. Quatro dos seis deputados estaduais também seguiram o mesmo caminho.

Até mesmo nos Estados em que o governador é oposição a Dilma, há acordos nesse sentido. No Pará, as conversas estão avançadas para o governador Simão Jatene (PSDB) apadrinhar o diretório regional, assim como ocorre em Goiás com Marconi Perillo (PSDB). Em Minas, Antonio Anastasia (PSDB) também não impôs maiores objeções ao PSD. A única exceção é em São Paulo, onde o governador Geraldo Alckmin (PSDB) trava as adesões à nova sigla.

Com essa estratégia, o PSD quer firmar-se nos grotões do país já em 2012, apresentando dois grandes atrativos: o governismo em níveis nacional e estadual e o acesso a seus recursos financeiros; e o controle da sigla em suas cidades. A meta é eleger 600 prefeitos, mas os dirigentes a consideram ousada demais. Se chegar à metade disso, já agradaria. O PSB, por exemplo, elegeu 314 prefeitos em 2008. Após as eleições municipais, provavelmente no início de 2013, ocorrerão eleições internas nas quais os "com-mandato" assumirão os diretórios municipais, regionais e nacional. Será quando Kassab, já fora da prefeitura, passará o posto de presidente nacional do PSD à senadora Kátia Abreu (TO).