Título: Racha entre republicanos dificulta acordo nos EUA
Autor: Boles, Corey
Fonte: Valor Econômico, 27/07/2011, Internacional, p. A11

O presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, John Boehner, do oposicionista Partido Republicano, enfrentou ontem um levante contra seu plano para solucionar o problema do limite da dívida do governo federal. Um líderes do partido disse que estava "confiante" de que não havia deputados republicanos suficientes para aprová-lo. Três grupos conservadores também pediram que os congressistas votassem contra o plano.

O deputado Jim Jordan, presidente da Comissão Republicana de Estudo, grupo de deputados conservadores, disse que o plano de Boehner não corta gastos o suficiente. Ele e outros conservadores são a favor do projeto "Corte, Limite e Equilíbrio do Orçamento", que combina as atuais reduções nos gastos com limites futuros, bem como com uma emenda constitucional obrigando o governo federal a nunca ter déficit no orçamento. Essa proposta não foi aprovada no Senado semana passada.

Jordan disse que não havia o apoio mínimo de 218 republicanos na Câmara para aprovar o plano de Boehner. Ele lidera um grupo que inclui 178 dos 240 deputados republicanos. Isso amplia a incerteza sobre o resultado da crise do limite da dívida. O Congresso continuava num impasse ontem, uma semana antes de o governo americano ficar sem dinheiro para pagar as suas contas.

Sem o apoio do Partido Democrata, Boehner só pode perder 23 votos de republicanos para conseguir aprovar seu plano na Câmara. Até agora, só 12 republicanos, incluindo a pré-candidata a presidente Michele Bachmann, já disseram publicamente que são contra o plano de Boehner. O vice-líder do governo na Câmara, o deputado democrata Seny Hoyer, disse que "muito poucos" deputados democratas vão apoiar o plano de Boehner, que deve ser votado hoje.

Para complicar mais o problema de Boehner, três importantes grupos conservadores pediram aos deputados que votem contra o plano: o Clube para o Crescimento, a União Nacional de Contribuintes, e a Ação de Patrimônio para a América, braço lobista da Fundação Heritage, em Washington.

O projeto de lei de Boehner não deve ser aprovado no Senado, onde a maioria democrata se opõe à medida. E a Casa Branca disse que o presidente Barack Obama vai vetar a lei se ela chegar à sua mesa.

O plano de Boehner prevê cortes no déficit de ao menos US$ 3 trilhões em dez anos, ao mesmo tempo em que eleva o limite de endividamento em duas fases.

O líder da maioria no Senado, o democrata Harry Reid, defende uma proposta que eleva o teto da dívida em US$ 2,7 trilhões, o que permitiria ao governo cobrir suas contas até 2012, ao mesmo tempo em que cortaria gastos pelo mesmo valor. O projeto de lei precisa do apoio de sete republicanos para obter 60 votos no Senado, e não está claro se esses votos existem.

A busca de votos cresceu depois que Obama, em discurso no horário nobre anteontem, alertou que os EUA estão à beira de um default que causaria um choque econômico. "Ficamos num impasse", disse. Sem uma solução, "nos arriscamos a gerar uma crise econômica profunda, desta vez causada quase inteiramente em Washington".

"Pela primeira vez na história, a nota de crédito AAA de nosso país pode ser rebaixada", disse Obama. "Os juros do cartão de crédito, da hipoteca e dos financiamentos automotivos iriam às alturas, o que seria igual a um aumento enorme de impostos do povo americano."

Ele pediu aos americanos que peçam a seus congressistas para apoiar o plano de Reid, um toque partidário que pode prejudicar as chances de romper o impasse.

Boehner também falou ao país na noite de segunda, logo depois do discurso de Obama. Ele defendeu seu plano. "O presidente já disse muitas vezes que precisa de uma abordagem "equilibrada", o que significa em Washington que "nós gastamos mais, você paga mais"", disse Boehner. "A triste verdade é que o presidente, seis meses atrás, queria um cheque em branco, e hoje ele quer um cheque em branco. Isso não vai acontecer."

O debate entre os dois principais líderes do país, transmitido pela TV, ocorreu quase uma semana antes de o governo ficar sem poder rolar suas dívidas, uma possibilidade que os dois alertaram que seria uma catástrofe econômica.

Os democratas no Senado planejavam realizar primeiro um teste de votação, mas na última hora decidiram adiar o plano até pelo menos quinta-feira. Um representante democrata disse que os líderes queriam esperar para ver se o projeto da Câmara seria derrotado hoje, o que tornaria o plano deles a última opção disponível.

A aprovação na Câmara do plano de Boehner aumentaria imediatamente o limite de endividamento do governo, de US$ 14,29 trilhões, em cerca de US$ 1 trilhão e permitiria mais um aumento de até US$ 1,5 trilhão ano que vem.

Boehner disse que a primeira fase do novo limite da dívida levaria o governo até fevereiro ou março, impondo ainda cortes de US$ 1,2 trilhão nos gastos por meio de vários limites orçamentários. Além disso, o Congresso teria de votar até o fim do ano uma emenda à Constituição para obrigar o governo a equilibrar o orçamento.

Obama é totalmente contra o aumento do limite em duas fases. Reid disse que seu plano atenderia a exigência de Boehner de que qualquer alta no limite da dívida seja acompanhada de cortes no orçamento em valor igual ou maior.