Título: Crise da dívida soberana antecipa "férias de verão" para captações
Autor: Mandl , Carolina
Fonte: Valor Econômico, 26/07/2011, Finanças, p. C1

As férias de verão dos investidores do hemisfério Norte chegaram antes da hora para as empresas brasileiras interessadas em emitir papéis de dívida no exterior. Por causa das incertezas que rodeiam a elevação do teto da dívida dos Estados Unidos e o risco de contágio da crise da dívida que ainda paira na zona do euro, emissores e compradores de bônus praticamente paralisaram suas atividades antes mesmo do início de agosto, tradicional mês de folga para americanos e europeus. O resultado é que os mandatos de captação externa estão parados nas mesas dos principais bancos de investimento. Segundo o Valor apurou, pelo menos quatro empresas que tinham planos de levantar dinheiro no exterior antes das férias de verão tiveram de retardar o projeto. A recomendação dos banqueiros é que as empresas aguardem até setembro para retomar seus planos de emissão de dívida. "Muitos investidores simplesmente não estão nem olhando as operações", diz o executivo de um banco estrangeiro.

Ontem, diante do baixo apetite dos fundos, uma operação de US$ 100 milhões da Usina Vista Alegre, de açúcar e álcool, teve de ser recuada, ao menos temporariamente. Emissões de baixos volumes encontram ainda mais dificuldade de colocação, já que os investidores avaliam que, se dias mais turbulentos vierem pela frente, vão precisar de uma porta de saída para os títulos que possuem em carteira, ou seja, liquidez. É algo difícil para nomes pouco conhecidos no mercado de dívida externa.

Por isso, para os bancos de investimentos, a leva de emissões anteriores às férias de agosto se encerrou na semana passada com a captação da petroquímica Braskem, de US$ 500 milhões e com vencimento em 2041. A operação teve uma demanda que chegou a US$ 3 bilhões.

Quando há aplicadores ainda com disposição para comprar os bônus, o apetite está direcionado a nomes de baixo risco e, mesmo assim, a taxas mais altas do que as costumeiras. "Ninguém neste momento quer forçar a mão para viabilizar uma operação, para não resultar em um custo maior para as companhias", diz o diretor de renda fixa de um banco local.

O compasso de espera vai perdurar até que se saiba mais claramente o que acontecerá com o limite de endividamento dos Estados Unidos. Um calote está descartado do cenário dos analistas, mas alguns trabalham com a possibilidade de atraso na negociações. Se isso acontecer, os bancos de investimento consideram a alternativa de recomendar às companhias brasileiras lançar dívida no mercado doméstico, via debêntures ou notas promissórias.

Por aqui, a demanda por ativos de renda fixa pelos fundos de investimento e de pensão continua elevada. Na semana passada, a oferta de debêntures da Lojas Renner teve boa receptividade, o que fez com que a varejista conseguisse derrubar a remuneração inicialmente oferecida de Certificado do Depósito Interfinanceiro mais 1,35% ao ano para CDI mais 1,1%.

O fechamento do mercado externo, porém, não tem sido visto como uma catástrofe para as empresas brasileiras. Isso porque de janeiro a junho as companhias captaram US$ 30 bilhões, volume recorde para o período. (Colaborou Vinícius Pinheiro)