Título: Brasil vai começar a retirar tropas do Haiti
Autor: Felício , Cesar
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2011, Brasil, p. A2

Depois de sete anos de presença militar no Haiti, o Brasil começa a querer programar a retirada. Nesta quinta-feira, na reunião de cúpula dos ministros de Defesa da Unasul em Montevidéu, Uruguai, o ministro brasileiro Celso Amorim vai propor o início da redução da presença militar na missão internacional da ONU (Minustah). De acordo com Amorim, que discutiu o tema ontem em Buenos Aires com o ministro da Defesa da Argentina, Arturo Puricelli, a diminuição do efetivo será o primeiro passo para o estabelecimento de um cronograma prevendo o fim do caráter militar da missão, comandada pelo Brasil desde 2004.

"Os objetivos da missão eram estabelecer a paz e a democracia no país. As condições de segurança melhoraram e o Haiti já realizou a sua segunda eleição democrática desde o início da missão. Se fôssemos esperar a situação ficar perfeita, teríamos que permanecer lá para sempre", disse Amorim. O ministro frisou que o desengajamento será gradual e o mandato da missão, que se esgota dia 15 de outubro, será renovado. Atualmente, a missão conta com 12,2 mil integrantes, sendo 2.166 militares brasileiros. O efetivo cresceu 36% no ano passado, em função do terremoto de janeiro de 2010, que matou 200 mil pessoas e arrasou com a infraestrutura haitiana.

"Não vamos voltar de imediato à situação pré-terremoto, porque será uma retirada gradual", comentou Amorim, ressalvando que a redução brasileira será proporcionalmente menor a de outros países, em função do país estar no comando das operações nas principais cidades do país. O tema será discutido em um momento em que a missão volta a sofrer críticas em função de desvio de comportamento de alguns integrantes. Esta semana, foram divulgados na internet vídeos mostrando militares uruguaios cometendo abusos sexuais contra crianças haitianas.

Na reunião de ontem, Amorim discutiu ainda a produção na Argentina de blindados leves sobre rodas em parceria com o Brasil. Os países já têm um acordo pelo qual a Argentina fornece alguns componentes para o projeto do avião cargueiro KC-390, desenvolvido pela Embraer. "Sabe-se que a Argentina terá necessidade de blindados e o Brasil já tem o Guarani. Podemos fazer em relação ao Guarani o mesmo que fizemos no caso do avião cargueiro KC-390", disse. O Guarani foi desenvolvido sob encomenda do Exército pela Iveco, a subsidiária da Fiat que produz caminhões. Ele se encontra em fase de testes e vai substituir o veículo blindado Urutu.